Governo quer nova lei de imigração baseada na reciprocidade

O governo federal quer aprovar uma nova lei de imigração para garantir direitos para os estrangeiros e assim também poder exigir bom tratamento aos brasileiros no exterior, pelo princípio da reciprocidade. O governo considera que o atual Estatuto do Estrangeiro — aprovado em 1980 sob a ditadura militar e a doutrina de segurança nacional — não é compatível com o Brasil democrático, que quer ganhar mais influência nos foros internacionais.

O projeto de uma nova lei de imigração foi enviado ao Congresso há quase três anos, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda não foi sequer discutido, disse nesta quarta (16) no Rio de Janeiro o presidente do Conselho Nacional de Imigração (Cnig), Paulo Sérgio de Almeida, na abertura de um seminário sobre o tema, promovido pelos ministérios da Justiça, do Trabalho e das Relações Exteriores. "O eixo da nova política vão ser os direitos dos imigrantes", adiantou Almeida, funcionário do Ministério do Trabalho.

Rodrigo do Amaral Souza, diretor do Departamento de Imigração e Assuntos Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que o "governo brasileiro nutre a expectativa" de que com a nova lei os brasileiros também tenham os seus direitos assegurados em outros países. O diplomata explicou que o Brasil esperou quatro anos para adotar o princípio da reciprocidade com os espanhóis, restringindo apenas recentemente sua entrada no país, depois da primeira crise deflagrada em 2008 pelo aumento no número de brasileiros barrados na Espanha.

As restrições à entrada de espanhóis coincidem com o bom momento vivido pela economia brasileira, em contraste com a crise enfrentada pelos países da zona do euro, em especial a Espanha.

"O imigrante no Brasil, assim como o emigrante brasileiro, consomem produtos, pagam impostos e devem usufruir da prestação de serviços públicos", argumentou Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça. "Precisamos superar a ótica do estrangeiro como estranho, como inimigo, e tratá-lo como cidadão global que exerce o legítimo direito de migrar."

Foram concedidos no ano passado vistos de trabalho para 70 mil estrangeiros — o que representa um aumento de 22% sobre 2010, que por sua vez já tinha crescido 20% em relação a 2009. Muitos são trabalhadores especializados que vêm instalar equipamentos.

O presidente do Conselho Nacional de Imigração reconheceu que é difícil contabilizar o número de trabalhadores imigrantes ilegais, mas disse que os acordos que permitem a livre circulação com os países vizinhos devem ter servido para diminuir a entrada irregular.

Fonte: O Estado de S. Paulo