Milhares de egípcios protestam contra resultado de eleições

Milhares de egípcios saíram às ruas nesta segunda-feira (28) para protestar contra a confirmação pelo Comitê Eleitoral dos candidatos que passaram ao segundo-turno nas eleições presidenciais do Egito. A definição do novo chefe de Estado será entre os candidatos Mohammed Mursi e Ahmed Shafiq.

Manifestantes protestam contra Shafiq

Mohammed Mursi representa o PLJ (Partido Liberdade e Justiça), braço político da Irmandade Muçulmana, enquanto Ahmed Shafiq é um antigo membro do regime de Hosni Mubarak, ditador no Egito durante 30 anos que renunciou em fevereiro de 2011 após uma onda de protestos no país.

Shafiq é um ex-comandante do Estado-Maior da Aeronáutica que foi o último chefe de governo de Mubarak. "O general Shafiq só será presidente quando eu estiver morto", dizia uma faixa, enquanto os manifestantes pisavam em cartazes e adesivos do candidato.

A maioria dos manifestantes que está concentrada na praça Tahrir carrega cartazes do candidato nacionalista Hamdin Sabbahi, o preferido dos revolucionários, que terminou em terceiro na contagem final dos votos. Sabbahi ganhou em grandes cidades, como Cairo e Alexandria, mas perdeu a chance de disputar o segundo turno devido ao pouco apoio recebido na zona rural.

“Estamos lutando desde o início do ano passado para pôr fim à era Mubarak. Não aceitamos que Shafiq seja uma das opções no segundo turno. Ele representa o contrário do espírito revolucionário”, conta o jovem Ahmed, que participou das manifestações "desde o primeiro dia”.

Na praça Tahrir, não há um palco. Também não há um líder que fale para toda a multidão. Pequenos grupos se organizam em assembleias e debatem os eventos recentes do Egito e “tentam convencer os menos revolucionários da importância de seguir lutando”, segundo palavras de um senhor de meia-idade que carrega um cartaz com a foto de Mursi cortada com uma cruz vermelha.

A frase mais repetida entre os participantes é "Horreya", que significa "liberdade" em árabe. O nome de manifestantes mortos nos enfrentamentos com as forças armadas também é repetido como um mantra pela multidão.

O medo de um avanço islamista também é uma preocupação de muitos dos que estão concentrados na praça Tahrir. “Nós precisamos aqui no Egito de um Estado secular, que possa abarcar a diversidade de religiões que temos no país. Sou muçulmano, mas não acho que a Irmandade Muçulmana vá fazer um bom governo. Prefiro Sabbahi”, revela a agente de turismo Miriam.

O trânsito já caótico da maior cidade da África passa a ser organizado pelos próprios manifestantes. Educadamente, indicam para onde o tráfego está sendo desviado e ajudam a que idosos e pessoas com crianças atravessem a rua.

Mas nem todos que estão na praça parecem concordar com a revolução. “Eu vou votar no Shafiq, mas isso é um segredo. Ninguém pode saber”, revela Mustafá, do sul do Egito, quase em tom de confissão. “Gosto de Shafiq porque ele é um homem bom, um soldado, alguém que realmente entende de segurança externa”.

Enquanto milhares de pessoas protestavam em Tahrir, o canal privado Al-Hayat informava que a sede da campanha de Shafiq estava sendo queimada por manifestantes.

Em Alexandria, segunda maior cidade do país, outros milhares de egípcios também protestaram contra a ausência de Sabbahi no segundo turno. Alguns levavam cartazes com frases como “Onde está a revolução do Egito?” e “Sabbahi é o nosso presidente. Shafiq tem que estar na prisão”.

Sabbahi recebeu cinco pontos percentuais a menos que Shafiq, o segundo colocado, e o comitê do candidato nacionalista entrou com uma ação na Comissão Eleitoral para que fossem investigados os casos de fraude e falsificação de votos. No entando, todos os pedidos foram rejeitados pela Comissão.

No primeiro dia das eleições presidenciais (23), o candidato Shafiq foi atingido por um sapato quando saía de seu colégio eleitoral. A presença de Shafiq no colégio levou dezenas de manifestantes a gritarem palavras de protesto contra a participação do candidato nas eleições. Para muitas pessoas, Shafiq representaria um regresso ao regime de Mubarak e um retrocesso no processo revolucionário.

Muitas das pessoas reunidas na praça nesta segunda-feira balançavam seus sapatos no ar, em referência ao ataque sofrido pelo candidato Shafiq há alguns dias, e pediam que o Comitê Eleitoral impugnasse sua candidatura. No dia 11 de junho, está previsto o julgamento de uma lei que desqualificaria Shafiq como candidato. Os analistas políticos apontam que este julgamento provavelmente não será realizado.

O movimento de boicote também parece crescer entre a população. No primeiro-turno, apenas 46,4% dos egípcios registrados para votar foram às urnas. A baixa participação pode ser explicada pelo alto percentual de indecisos e uma perda de entusiasmo depois da ineficácia do parlamento eleito em dezembro de 2011 em aprovar importantes reformas políticas e sociais. Os egípcios voltam às urnas nos dias 16 e 17 de junho.

Com Opera Mundi