Para fugir de cassação, Demóstenes questiona gravações da PF

O depoimento do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) nesta terça-feira (29) no Conselho de Ética do Senado não comoveu, nem convenceu. Ele negou as acusações de que teria atuado em favor do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, ou que teria participação em negócios ilícitos conduzidos pelo empresário.

Ele voltou a apontar irregularidades nos áudios gravados durante operações da polícia federal e pediu a aprovação pelo Conselho de Ética de requerimento apresentado por sua defesa para que seja realizada perícia nas gravações.

Questionado pelo relator da comissão, senador Humberto Costa (PT-PE), sobre a veracidade das gravações, Demóstenes se defendeu colocando em dúvida a autenticidade das gravações.

“Há muita edição. Muitas conversas foram montadas, editadas e é por isso que há requerimento para que a perícia possa ser feita”, disse.

Sobre os R$ 20 mil que teriam sido entregues a ele pela organização de Cachoeira, Demóstenes disse que os áudios captaram um diálogo truncado. Segundo ele, o operador de Cachoeira, Gleyb Ferreira, teria ido à sua casa na véspera de seu segundo casamento para lhe entregar um presente, mas não o dinheiro, como o áudio dá a entender.

Em resposta a Humberto Costa, Demóstenes disse que conheceu Cachoeira no período em que trabalhava na Secretaria de Segurança de Goiás, entre 1999 e 2002. Ele afirmou que o contato inicial se deu quando o jogo era legal no estado.

“Como ele tinha exclusividade para exploração do jogo em Goiás, cobrava de mim e outras autoridades a atuação contra outros exploradores que eram naquele contexto considerados ilegais”.

Demóstenes admitiu ter recebido um rádio Nextel de presente de Cachoeira, mas negou que falava exclusivamente com o empresário. Ele considerou um "erro" ter recebido o presente. "Hoje é fácil verificar que foi um erro. Eu não imaginava a dimensão que isso teria, mas não tinha a lanterna na popa e não tinha como adivinhar que isso seria utilizado com outras finalidades. Mas não é crime receber o rádio Nextel e eu não sabia que outras pessoas tinham recebido."

O senador confirmou que recebeu inúmeros pedidos de Cachoeira, inclusive para fazer lobby em favor do empresário no Congresso e no governo. Demóstenes confirmou que foi à Anvisa pedir em favor da empresa farmacêutica do empresário, mas disse que repetia essa conduta para várias empresas do estado de Goiás. "Nem tudo que se diz, se faz. Às vezes, para se livrar de um interlocutor, de uma conversa. Muita coisa não aconteceu porque eu não fui atrás. Eu fazia isso por gentileza, como fazia com muitos outros."

Lobby

Sobre o grampo em que foi flagrado avisando Cachoeira de uma operação da Polícia Federal que seria realizada contra jogos de azar, Demóstenes disse que fazia "testes" com o empresário para confirmar se ele, como argumentava, havia deixado a ilegalidade.

"Num dos momentos, eu joguei verde em cima dele. Eu disse que tem operação conjunta da PF com o Ministério Público que nunca se realizou e nunca foi cogitada. Ainda assim eu fazia esses testes com ele. Eu pergunto: que lobista sou eu que nunca procurei nenhum colega senador para provar jogo, para discutir sobre legalização de jogos? Eu peço que eu seja julgado pelo que eu fiz, não pelo que eu falei que iria fazer."

Demóstenes disse que nunca usou aviões de Cachoeira, ou pagos pelo empresário, mas admitiu que utilizou aeronaves cedidas por "empresários e amigos". Sobre a intensa troca de telefonemas com o empresário, 416 em que foi flagrado pela polícia, disse que o número é "pequeno" diante do total de ligações feitas no período da operação — cerca de 200 mil.

Ministros

O senador admitiu que procurou ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do governo federal para defender interesses de Goiás, mas negou atuar em favor de Cachoeira.

Ele confirmou viagem a Berlim (Alemanha) com o ministro Gilmar Mendes, mas negou que tenham utilizado aeronave cedidas por empresários. Demóstenes disse que os dois se encontraram em Praga (República Tcheca), foram a Berlim e retornaram ao Brasil em voos separados — sem que Cachoeira estivesse na viagem.

O senador confirmou que, numa conversa flagrada pela PF, mencionou dívida das Centrais Elétricas de Goiás de R$ 2,3 milhões que poderia ser revertida pelo STF. Demóstenes disse que apenas citou a Cachoeira que Mendes havia dado "repercussão geral" sobre o tema, mas negou ter pedido apoio ao ministro no caso.

"A empresa estava em via de ser privatizada, melhor dizendo, federalizada. As dívidas se avolumaram e ali eu comemorava decisão de ministro do Supremo que poderia tirar das costas da Celge ação de R$ 2,3 bilhões que não diz respeito a ninguém. Quem toca a empresa é o governo de Goiás. Não há interesse de quem quer que seja, a não ser o interesse público."

Informações da Folha.com e da Agência Senado