A representatividade das Centrais Sindicais

No último dia 24 de maio, o novo ministro do Trabalho, Carlos Brizola, conhecido como Brizola Neto, do PDT, publicou como determina a Lei nº 11.648 de 31 de março de 2008, do presidente Lula, o despacho que consta do processo de Aferição da Representatividade das Centrais Sindicais no país, no sentido de atender aos requisitos do artigo 2º da mencionada Lei, onde estas têm que demonstrar representar acima de 7% do conjunto dos trabalhadores brasileiros sindicalizados.

Por Lejeune Mirhan*

O Ministério do Trabalho contra com um setor interno chamado SIRT – Sistema de Informações sobre Relações do Trabalho, que recebe registro de pedidos de arquivo de entidade, filiações á centrais recebe atas que informam número de associados etc. Com base nesses dados, uma comissão interna do Ministério, com representação de todas as centrais, chegou a alguns números finais, aos quais queremos emitir alguns comentários que achamos relevantes. Nem todos os dados constam do despacho do ministro e outros buscamos na própria página do Ministério e mesmo em sites relacionados na Internet.

Alguns dados preliminares, que necessitam ser de conhecimento dos sindicalistas brasileiros.

1. O Brasil hoje tem 12 organizações nacionais que se reivindicam “centrais sindicais”, ainda que algumas delas tenham entre três e quatro sindicatos filiados. São elas: CUT, Força, UGT, NCST, CTB, CGTB, CSP (Central Sindical das Profissões), CBDT (Central Brasileira Democrática dos Trabalhadores), Conlutas, UST (União Sindical dos Trabalhadores), CUPSPB (Central Unificada dos
Profissionais Servidores Públicos do Brasil) e Cenasp (Central Nacional Sindical dos Profissionais em Geral);

2. Em 29 de maio de 2012, o SIRT registrava 9.801 sindicatos devidamente registrados e com código sindical ativo e com documentação em ordem. Sabemos que o Brasil deve ter mais uns dez mil que não optaram ainda pelo pedido do registro no sistema nacional ou que tiveram seus pedidos indeferidos. Estes não contam para a aferição da representação e cálculo do rateio dos 10% que o governo vem devolvendo da contribuição sindical;

3. Dos 9.801 sindicatos registrados, apenas 2.665 não estão filiados a uma central sindical, ou seja, 27,19%. Pode-se dizer que hoje, apenas um em cada quatro sindicatos não optou ainda em afiliar-se a uma central, quadro completamente inverso quando em 2008 iniciaram-se as filiações pelo sistema nacional de aferição;

4. O SIRT nos informa que existem 7.253.767 trabalhadores sindicalizados no país, relacionados com esses 9.801 sindicatos legalizados. Como sabemos, por dados de 2009 do PNAD/IBGE, havia 32,4 milhões de trabalhadores registrados no Brasil, concluímos que o índice de sindicalização aproximado hoje se situa na faixa de 22,38% da taxa de sindicalização, muito abaixo das taxas internacionais. Sabemos que este número, quando da posse do presidente Lula era da ordem de 14%. Grosso modo, ainda assim, um em apenas cinco trabalhadores registrados opta em associar-se à sua entidade de classe;

5. Em função do total de sindicalizados e número de sindicatos que entram no cálculo, concluímos que, pela média, cada sindicato no país associa apenas 740 trabalhadores;

6. A média cai para 348 sócios em entidades sem centrais e sobe para 886 sócios em entidades com centrais sindicais;

Feitos estes esclarecimentos iniciais e necessários, temos condições de construir uma pequena análise mais quantitativa sobre a representatividade das centrais. Baseamos nosso trabalho em três quesitos básicos: a) força por filiações de sindicatos; b) força por filiação de sindicalizados e c) média de associados por entidade.

A) Sindicatos Filiados – os números que nos apresentam indicam que 7.136 sindicatos são filiados a alguma central sindical no país (72,8%). Como temos três centrais sindicais que possuem entre três e quatro sindicatos afiliados (Cenasp, CUPSPB e UST), comentaremos apenas as outras nove organizações que se proclamam “centrais sindicais nacionais”. Pela ordem ficou da seguinte forma:

CUT – 2.168 sindicatos filiados ou 22,12%
Força – 1.708 sindicatos filiados ou 17,43%
UGT – 1.046 sindicatos filiados ou 10,67%
NCST – 942 sindicatos filiados ou 9,61%
CTB – 566 sindicatos filiados ou 5,77%
CGTB – 302 sindicatos filiados ou 3,08%
CSP – 180 sindicatos filiados ou 1,84%
CBDT – 135 sindicatos filiados ou 1,38%
Conlutas – 79 sindicatos filiados ou 0,81%
Outras – 10 sindicatos filiados ou 0,1%
Sem Centrais – 2.665 sindicatos ou 27,19%
Totais: 9.801 sindicatos ou 100,0%

B) Sindicalizações por Centrais – Neste quesito, o sistema registra, como dissemos, a existência de 7.253.767 trabalhadores associados a um dos 9.801 sindicatos registrados no SIRT. Desses, 927.958 estavam em entidades não afiliadas a nenhuma central sindical, ou apenas 12,79%. Isso significa dizer que os sindicatos afiliados a uma central amealham 87,21% dos sócios de entidades sindicais no país.

O ranking ficou assim estabelecido neste quesito:

CUT – 2.658.272 sindicalizados ou 36,65%
Força – 991.811 sindicalizados ou 13,67%
UGT – 816.396 sindicalizados ou 11,25%
CTB – 663.470 sindicalizados ou 9,15%
NCST – 587.136 sindicalizados ou 8,09%
CGTB – 276.765 sindicalizados ou 3,82%
CSP – 171.376 sindicalizados ou 2,36%
Conlutas – 120.796 sindicalizados ou 1,67%
CBDT – 38.142 sindicalizados ou 0,53%
Outras – 1.645 sindicalizados ou 0,02%
Sem Centrais – 927.958 sindicalizados ou 12,79%
Totais: 7.253.767 ou 100,00%

C) Média de Associados por Sindicato – Como já dissemos, pela média nacional, os 9.801 sindicatos do SIRT associam 740 trabalhadores por entidade, média que cai para 348 em entidades sem centrais e sobe para 886 nos sindicatos filiados a uma central. Vamos ao ranking desse quesito:

Conlutas – 1.529 sócios por entidade ou 106,6% acima da média nacional
CUT – 1.226 sócios por entidade ou 65,67% acima da média nacional
CTB – 1.172 sócios por entidade ou 58,38% acima da média nacional
CSP – 952 sócios por entidade ou 28,64% acima da média nacional
CGTB – 916 sócios por entidade ou 23,83% acima da média nacional
UGT – 780 sócios por entidade ou 5,46% acima da média nacional
NCST – 623 sócios por entidade ou 15,78% abaixo da média nacional
Força – 581 sócios por entidade ou 21,54% abaixo da média nacional
CBDT – 283 sócios por entidade ou 61,83% abaixo da média nacional
Outras – 164 sócios por entidade ou 77,84% abaixo da média nacional
Sem Centrais – 348 sócios por entidade ou 52,95% abaixo da média nacional
Totais: 740 sócios por entidade ou a média nacional.

O sistema nacional de aferições, seguramente, ainda precisa ser melhor aprimorado. Vigora desde 2008, valendo os anos de 2009 e 2010, com 5% e referente a 2011, de acordo com a Lei 11.648/08, este percentual se eleva a 7%. Precisamos desenvolver melhor as informações, com auxílio de outras fontes de informação, como a RAIS, dados do Censo do IBGE que incluísse esses quesitos e mesmo os dados das atas sindicais, validando apenas as informações dos aptos a votarem nas eleições.

No ano de 2009 e 2010, seis centrais atingiram os percentuais de 5%, a saber, CUT, Força, CTB, NCST, UGT e CGTB. Todas as outras menores seis centrais não atingiram. No ano de 2011, base para o rateio das verbais da contribuição sindical apenas cinco atingiram, a saber: CUT, Força, CTB, NCST e UGT. As demais CGTB, CSP, Conlutas e CBDT não atingiram, de forma a que ficarão sem os recursos
provenientes da aplicação da Lei.

A Central Única dos Trabalhadores – CUT, fundada em 1983, a maior e mais antiga, vem, visivelmente, perdendo espaço entre o movimento sindical brasileiro. Esta que já foi mais de 50% sozinha da representação de afiliação de entidades e representatividade de sindicalizados, hoje se situa na faixa de 22% de sindicatos e 36% de associados.

Chama-nos a atenção que a força sindical, ainda que seja a segunda em ambos os quesitos, mostra que suas entidades sindicais filiam muito abaixo da média nacional (21,54% menos), ou seja, são os chamados micros sindicatos, com menos de 600 sócios cada. Nesse quesito a Força cai para a 8ª posição no ranking.

Nesse mesmo quesito, ainda que a Conlutas apareça em 1º, com a maior média, ela não atinge os requisitos da Lei. Assim, seguido da CUT, a CTB, a mais jovem de todas as centrais no país – fundada em dezembro de 2007, portanto com cinco anos de existência – nesse campo registra o 2º maior índice de trabalhadores sindicalizados por entidade, com 1.172 e 58,38% acima da média nacional.

Há muito ainda o que se fazer nesse campo. O sistema do ISRT deve permitir, em mecanismos acordados com todas as centrais legalizadas, a possibilidade de fusão (ou incorporação, seja lá como se queira chamar), de forma a que se possa, como na legislação partidária, por determinação de duas ou até mais entidades, criarem-se novas centrais sindicais, mais fortes e representativas. Não tem sentido algum, não saberíamos dizer quais são mesmo tantas as diferenças para permitir que o país tenha 12 entidades que se apresentem como “centrais sindicais”.

Por fim, uma conclusão mais política, para vermos como ainda é árdua a luta pela elevação da consciência de categoria profissional e consciência política dos trabalhadores e do proletariado brasileiro. Praticamente apenas um em cada cinco trabalhadores registrados possui vínculo com sua entidade de categoria. Grosso modo, 80% de todos os trabalhadores no país talvez ainda achem que as suas vidas seriam melhores sem sindicatos. Precisamos elevar nossos patamares de índices de sindicalização a padrões europeus, acima de 40% pelo menos. Isso só fortalece nosso movimento sindical e as centrais nacionais.



*Sociólogo e membro da Secretaria Sindical Nacional do PCdoB.