“Bolsonaro rasgou a Constituição”

Esta é a opinião de Beto de Jesus, presidente do Instituto Edson Neves, a respeito de declarações recentes do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ ) à imprensa, nas quais criticou a Parada Gay, realizada neste final de semana em São Paulo, e a participação do Estado no evento: “É uma conduta inadequada, reprovada pela população”.

por Christiane Marcondes, de São Paulo

Parada Gay - Ercio Afonso (Blogspot)

Deliberadamente, o ex-militar, Bolsonaro, faz dos preconceitos, principalmente a homofobia, a sua plataforma eleitoral e, assim, colhe os votos da “direita raivosa”, como definiu Beto: "É uma estratégia", que alvoroçou nesta quarta-feira (13) a fúria da maioria do tuiteiros, mas também mereceu a aprovação do seu fiel eleitorado.

O blog “família Bolsonaro”, que inclui notícias e posts de Jair e também do vereador Carlos Bolsonaro e do deputado estadual pelo Rio, Flávio Bolsonaro, tem apenas 215 seguidores, número pequeno diante do assumido eleitorado que elege e reelege os três nas urnas. E não só. Causa espanto que o vereador Carlos Bolsonaro seja Vice-Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Beto de Jesus não se espanta: “Bolsonaro deveria ser punido, ele falta ao decoro como parlamentar quando faz essas declarações e campanhas preconceituosas, o nosso legislativo nos envergonha”, enfatizou.

O líder aproveitou para lamentar o atraso do Brasil em relação a outros países da América Latina no que se refere a conquistas sociais. “Estamos ainda discutindo a legalidade do aborto”. Acrescentou que, pelo porte e liderança político-econômica, o Brasil deveria ser o carro-chefe das mudanças no continente: “Em países como Equador e Colômbia, a união homossexual já está incorporada à Constituição”, exemplifica.

Maior parada gay do mundo

O boicote à Parada Gay, que ocupou a avenida Paulista e outras vias centrais da capital paulista neste final de semana (9 e 10 de junho), não é privilégio de político pretensamente desinformado. A mídia também colabora, buscando, por exemplo, conflito entre números, como o do público presente. A organização anunciou um dado, os maiores veículos do país deram como manchete que o público diminuiu em 2012. Menor ou não, a Parada Gay de São Paulo ainda é a maior do mundo.

Rodrigo Pinheiro, presidente do Forum de Ongs de Aids do Estado de São Paulo, participou do evento: “Estava lotado de gente, muitas famílias, crianças, senhoras sozinhas. Tem que ir lá ver para poder conferir. Esta história de que o povo condena o evento é mentirosa e, pior que isso, representa um desserviço ao trabalho de conscientização que fazemos o ano inteiro em campanhas contra a aids. O público de jovens gays ainda é o mais vulnerável à doença, justamente porque vive cercado de preconceitos e sem acesso à informação”.

Pinheiro desfilou este ano no trio elétrico dos comerciários: “Isso mostra como é ampla a adesão. Não é só o Estado que participa, mas sindicatos e outras entidades que lutam pela igualdade no ambiente de trabalho”.

Conforme apurado, o evento é grande, a luta é maior ainda e, em última instância, trata-se de um caso de saúde pública. “Não se justifica um índice epidêmico de aids, de 11% de incidência, entre os jovens homossexuais. A Parada Gay é uma aliada na guerra pelo fim da aids no país”, conclui Pinheiro.