Itália e Espanha chegam a acordo para acalmar mercados

Alemanha de Angela Merkel teve que ceder às pressões de Itália e Espanha.

Na cúpula dos líderes europeus em Bruxelas, que termina nesta sexta-feira (29), Espanha e Itália jogaram como se já disputassem a final da Eurocopa. O “combate”, no entanto, ocorreu nas linhas econômicas e as duas nações uniram forças para derrotar a Alemanha. Ambos ameaçaram bloquear qualquer acordo da Zona do Euro para solucionar a crise, incluindo um plano de estímulo ao crescimento estimado em 130 bilhões de euros, caso o bloco não agisse de forma imediata para aliviar as pressões sob suas economias. O resultado, como destacou o site da revista alemã Der Spiegel, valeu a comparação com o futebol, no qual a Alemanha foi derrotada pelos italianos ontem.

Os chefes de Estado da União Europeia, principalmente os de Alemanha e Finlândia, tiveram que ceder. O bloco aceitou recapitalizar diretamente os bancos em crise e utilizar o fundo de resgate para comprar títulos diretamente dos países em dificuldade. A supervisão financeira da região ficou, no entanto, com o Banco Central Europeu (BCE). As ações eram desejadas por Itália e Espanha, mas também defendidas pela França.

Itália e Espanha vinham enfrentando nas últimas semanas fortes pressões dos mercados. Os títulos da dívida espanhola chegaram a ultrapassar o teto de 7%, visto como insustentável em longo prazo. Os da Itália se aproximaram deste nível. Quanto maior os juros, mais riscos de um calote. Por isso, o mercado exige mais retorno para investir. Caso isso esse cenário se prolongasse, os países corriam o risco de precisar de um resgate. Mas o anúncio do acordo parece ter animado o mercado. As taxas de juros espanholas dos bônus a 10 anos recuaram para menos de 6,5% nesta sexta-feira. Os juros pagos da dívida de longo prazo italiana caíram para menos de 6%. E as bolsas europeias fecharam em forte alta.

O resultado foi bem recebido pelo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti. O premier manifestou sua “satisfação” com o acordo e o qualificou de “muito importante para o futuro da União Europeia e da zona do euro”.

A recapitalização direta dos bancos enfrentava a resistência da Alemanha, contrária ao “rompimento do “vínculo entre dívida pública e bancária”. Uma vez que a supervisão reforçada pelo BCE entre em vigor, possivelmente antes do final do ano, a ajuda deixará de contabilizar como dívida pública. Isso porque o valor não será emprestado ao Estado. Esta é uma grande notícia para a Espanha, um país que tem se comprometido com Bruxelas a reduzir seu déficit público a 5,3% do PIB este ano, frente aos 8,9% de 2011, em meio a uma grave recessão e um desemprego que afeta quase 25% da população.

Merkel não vê derrota no resultado

A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou nesta sexta-feira que permaneceu “fiel” a seus princípios ao pedir condições em troca das medidas cruciais para ajudar os países em dificuldade. A injeção de capital diretamente aos bancos espanhóis, que possui um teto de 100 bilhões de euros, será feita através do fundo de resgate europeu, sem passar pelo Estado, mas com a condição de que “o BCE passe a ser o supervisor único do setor bancário na Eurozona”, como queria a Alemanha. “Creio que obteremos algo importante, mas ao mesmo tempo nos manteremos fieis aos nossos princípios: nenhuma ajuda será dada sem condições e sem contrapartidas”, disse a chanceler alemã.

A Espanha pediu oficialmente esta semana ajuda à zona do euro para sanear e injetar capital em seus bancos, fragilizados após o estouro da bolha imobiliária de 2008. O resgate será feito primeiramente por meio do fundo temporário (FEEF), e depois pelo MEE, que entrará em vigor em julho, e que neste caso não terá sua condição de credor preferencial. Uma notícia muito positiva para os investidores privados, que temem ficar desprotegidos em caso de moratória. “São soluções muito positivas”, avaliou Mario Monti. O presidente do BCE, Mario Draghi, também celebrou o acordo. “A possibilidade de usar o fundo de resgate permanente (MEDE) para recapitalizar diretamente os bancos é algo que o BCE tenta estimular há algum tempo e é outro bom resultado dos dois dias de reunião dos dirigentes europeus”, afirmou.

Integração total

Na cúpula, os países devem buscar uma maior integração fiscal e bancária no continente. Uma proposta polêmica surge neste cenário. As autoridades da União Europeia (UE) sugeriram a criação de uma entidade europeia que teria poderes sobre os orçamentos nacionais dos países do bloco. Pelo plano, Bruxelas ganharia poderes sobre a soberania dos países da Zona do Euro para mudar orçamentos fora das metas de déficit. Seria uma espécie de superministério de Finanças a vasculhar as contas dos 17 membros do bloco, que teria um prazo de dez anos para ser criado.

A ideia foi vista com desconfiança pela chanceler alemã, Angela Merkel, para quem o plano é focado em dividir responsabilidade sem ênfase o suficiente na disciplina fiscal. Mas ela não descartou a proposta. Outro que demonstrou preocupação em conceder “muitos poderes” a Bruxelas foi o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.

Mas no final, os 17 países do euro optaram por iniciar um processo de maior integração econômica e monetária com a união bancária, fiscal, marco de política econômica comum e fortalecimento da legitimidade democrática. Agora, o Conselho da UE, a Comissão Europeia e o BCE vão elaborar um programa a ser apresentado na cúpula do bloco em outubro. O documento deve criar uma estrutura mais homogênea, maior solidariedade e menos soberania. Devem aparecer também um supervisor bancário único e vetos a orçamentos nacionais insustentáveis.

Fonte: Carta Capital com informações AFP