Quanto custaria à Alemanha fim do euro

O que representa para a Alemanha estar na zona euro? Desde o início da crise, Berlim tem-se posicionado enquanto o país que menos tem a perder com a crise da moeda única, evitando ao máximo fazer cedências em acordos com os parceiros comunitários.

Por Nuno Aguiar, na Agência Dinheiro Vivo

No entanto, num cenário de rutura da zona euro, a economia alemã sofreria um choque profundo. Segundo um relatório do Ministério das Finanças a que a revista alemã “Der Spiegel” teve acesso, o fim do euro provocaria uma recessão de 10% no primeiro ano e duplicaria o atual nível de desemprego alemão.

A um dia de mais uma Cimeira da União Europeia, a corda continua a ser puxada pelos dois lados: a Alemanha (e outros países do Norte) reclama perdas importantes de soberania e programas de austeridade duros para países que queiram beneficiar de empréstimos comunitários; os países em dificuldades pedem a mutualização da dívida (eurobonds), menos austeridade e alterações de estruturas europeias, nomeadamente o papel do Banco Central Europeu (BCE). A corda tem quebrado sempre do mesmo lado – o mais frágil.

A chanceler alemã Angela Merkel tem-se mostrado intransigente em vários temas, recusando cedências. Ainda ontem terá dito aos deputados do FDP que “enquanto for viva” recusará qualquer iniciativa relacionada com eurobonds.

Portugal e outros países alienados pelos mercados financeiros têm sido encostados à parede pela Alemanha: a dureza da austeridade ou o choque da saída ou fim do euro. Mas Berlim tem todos os motivos para se esforçar para encontrar soluções para a crise. A confirmarem-se os dados do relatório a que a “Der Spiegel” publicou – o Ministério das Finanças alemão diz desconhecer o documento – significa que Merkel sabe perfeitamente o que tem a perder com a crise. Perante um cenário de recessão de 10% e cinco milhões de desempregados, a emissão de eurobonds, o reforço dos fundos de resgate e a constituição do Banco Central Europeu (BCE) como um credor de último recurso, poderão ser “males menores” para Berlim.

“Uma dissolução da zona euro teria consequências catastróficas para a economia alemã”, escreve a “Der Spiegel”. “O Ministério das Finanças [alemão] tem mantido esta informação em segredo, temendo um descontrolo do custo de salvação do euro.”

Mais: os principais parceiros comerciais alemães são países da moeda única e a zona euro permitiu o forte desenvolvimento das exportações alemães; os custos de financiamento da Alemanha estão cada vez mais baixos, registando-se mesmo juros negativos.

Os dados divulgados pela “Der Spiegel” surgem numa altura em que o apoio dos alemães à permanência na zona euro é cada vez mais baixo. Influenciados por uma narrativa de divisão da Europa entre preguiçosos (países do Sul) e trabalhadores (Norte), quatro em cada dez desejam abandonar a moeda única. Uma tendência que traz preocupações para o futuro. É que, em breve, Angela Merkel terá de convencer os alemães a votar nela. Uma retórica anti-euro pode ajudar.

Fonte: Blog Escrevinhador