Educação ainda não é prioridade no Brasil

Resistência em investir no setor, para especialistas, mostra opção das elites em modelo econômico exportador de commodities

As discussões em torno da aplicação de recursos do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, previsto no Plano Nacional de Educação, evidenciam a dificuldade e a resistência para uma maior aplicação de recursos no setor.

A falta de interesse nesse tipo de investimento, para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, pode ser explicada pela “resposta clássica” de que o acesso à educação representa mais autonomia para o cidadão. “Mas acho que não é só isso. O fato é que o Brasil não tem um Estado justo e não investe em políticas sociais. O Estado é hoje muito mais um auxiliar da elite no apoio aos grandes bancos e aos empresários”, afirma. É justamente a questão econômica, na avaliação do professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, a resposta para a questão. Para ele, os parcos investimentos em políticas educacionais são reflexo de um modelo de desenvolvimento focado na exportação de commodities, que não necessita de uma mão de obra mais qualificada.

“É um bloco de poder que está feliz com o setor econômico e com a maneira como o Brasil se estruturou nas relações sociais. E uma educação minimalista e simples, de pouca sofisticação científica e cultural, dá conta das necessidades”, diz.

Prova disso, segundo ele, foi o crescimento econômico vivenciado pelo país a partir da década de 1940. “O Brasil crescia a padrões que são, hoje, os padrões chineses, com uma população praticamente semiletrada. E nem por isso o Brasil deixou de crescer”, ressalta.

“É uma visão estreita, produtivista, que não é de educação para a cidadania”, agrega o professor do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Gaudêncio Frigotto, que vai além: “É uma resistência de classe, de uma classe opaca, com estigma escravocrata”, afirma.

Na opinião de Cara, a afirmação do ministro Guido Mantega, para quem o aumento de investimentos para 10% do PIB pode “quebrar” o Estado, ilustra toda a dificuldade.

“Para tudo que é política social que precisa de recursos, como é o caso da educação e da saúde, o governo se arvora e afirma que isso vai quebrar o Estado. Vai quebrar, de fato, o Estado de poder que prejudica a maior parte da população em favor de uma elite minoritária”, afirma.

Fonte:Brasil de Fato