Trabalhadores marcharam até Madri contra cortes do governo

No mesmo dia que a imprensa espanhola noticiou amplamente as regras europeias para salvar os bancos da Espanha, chega a Madri um grupo de 160 vítimas da crise. Originários de Astúrias, León e Palencia (províncias do norte do país), os mineiros caminharam mais de 400 quilômetros, durante 19 dias, debaixo de sol e de chuva, em trajetos que chegaram a durar nove horas.


Centenas de mineiros chegaram na terça (10) a Madri e foram recebidos por manifestantes / Fonte: Agência Efe

Eles lutam contra a crise. O governo do partido conservador de Mariano Rajoy pretende cortar os subsídios à mineração do carvão em 63%. Os donos das minas já avisaram que se o governo cortar a ajuda, eles cortam o número de empregos na mesma proporção.

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Na Espanha, existem 47 locais de exploração do carvão. A atividade emprega diretamente cerca de 8 mil pessoas. Se os empregadores cumprirem com a promessa, mais de 5 mil pessoas ficarão sem emprego, no país que tem a maior taxa de desemprego de toda a Europa.

Cabe acrescentar que o setor de extração de carvão não é rentável na Espanha e o país possui o Plano Nacional de Reserva Estratégica de Carvão e Novo Modelo de Desenvolvimento Integral e Sustentável das Comarcas Mineras, que nada mais é que uma diretriz a ser seguida pelo poder público para acabar com a dependência de diversas cidades e regiões em relação à extração do carvão e, com isso, diminuir gradualmente os subsídios e a produção desta matéria-prima tão poluente.

A ideia é que esse plano dure anos, até porque não é fácil substituir uma atividade econômica hegemônica em uma região. É preciso recapacitar a mão de obra, investir em novos setores e fomentar um ambiente para a transição. Entretanto, o governo Rajoy pretende realizar os cortes em um período de poucos meses, deixando trabalhadores, empresas, cidades e regiões sem direção.

O corte vem na esteira dos acordos europeus para reduzir o déficit público e a Espanha se encontra em uma situação pior em relação aos outros países porque teve que resgatar parte de seus bancos. Nos próximos 18 meses, a União Europeia deve emprestar até 100 bilhões de euros ao Estado ibérico. Sendo que de toda essa bolada, pelo menos 62 bilhões irão salvar os bancos do país e não os 4,6 milhões de desempregados contabilizados em junho deste ano.

Rajoy e seus ministros negaram até o último dia que precisariam de empréstimos para salvar a Espanha de um colapso bancário. Quando tiveram que admitir o inevitável, o líder do governo saiu dizendo para os quatro cantos do mundo que, diferentemente dos outros países europeus já resgatados, a Espanha não deveria prestar nenhuma contrapartida para obter o valor astronômico divulgado.

Pois bem, o tempo passou e a máscara caiu. O país terá que abrir mão de parte de sua soberania econômica para ser salvo. Promessas do político do PP (Partido Popular), como não aumentar o imposto sobre o consumo, também se mostraram falsas.

Em tempos do ecologicamente correto e do livre comércio, a causa dos mineiros tinha tudo para ser ignorada pelo povo espanhol. Mas o sacrifício dessas 160 vítimas da crise, que trabalham em turnos de até 10 horas para ganharem pouco mais de dois salários mínimos por mês, virou o símbolo da luta de um povo contra a crise, de famílias contra o desemprego e de mineiros contra mentirosos.

Fonte: Opera Mundi