Collor na TV Globo. Pipocou?

Minha passagem pelo Jornal da Globo durou três anos. Foi logo após Ana Paula Padrão assumir a bancada do telejornal em 2000, ao substituir Lilian Witte Fibe, com quem também tive a honra de trabalhar interinamente.
Por Marco Aurélio Mello*

No início, acumulei as funções de editor de política e economia, aproveitando-me da experiência adquirida no Bom Dia Brasil e fazendo jus à extensão no Curso de Formação de Governantes da Fundação Escola de Governo, curso do qual fui bolsista.

Em 2003, ano em que Lula tomou posse, já tinha alguma tarimba. Foi quando recebi o convite de Marco Antonio Rodrigues, o Bodão, para assumir a vaga de gerente regional de jornalismo em Maceió. (Bodão foi meu primeiro editor-chefe, assim que cheguei a São Paulo, em 1998). O salário de gerente era praticamente o mesmo de editor do JG, mas a oportunidade, segundo ele, era única. Fiquei de pensar e fui consultar minha mulher. Ela foi taxativa: – Demoramos muito para nos estabelecer. Estou seguindo seus passos desde que nós nos casamos. Agora, que compramos nossa casa em Vinhedo e voltei a investir na minha carreira, você fala em mudar? Nem pensar!

Também sabia que não seria um desafio fácil. Afinal, apesar do dono da emissora, Fernando Collor de Mello, viver em Miami a TV seguia sendo o brinquedo preferido nas Organizações Arnon de Mello, da qual ele era o principal herdeiro e acionista. O ano seguinte, 2004, seria ano eleitoral. Prefeitos e vereadores seriam escolhidos em todo o país e, como bem sabemos, a influência de um canal de televisão em momentos assim é muito grande, consequentemente as pressões também.

Bodão comandava um departamento de "controle de qualidade editorial". Na verdade, ele e suas meninas tinham a incumbência de assistir telejornais gravados das emissoras afiliadas para se assegurarem de que as "diretrizes" editoriais estavam sendo seguidas. É que a rede tenta exercer o controle sobre o conteúdo editorial das emissoras associadas. Claro que nem sempre consegue, mas tentar, tenta.

A emissora cabeça de rede estava enfraquecida. Vinha de uma crise econômica sem precedentes, em que foi obrigada a se desfazer de várias participações societárias Brasil afora, e seu candidato, Serra, tinha acabado de levar uma sova do "sapo barbudo". E mais, depois do impeachment, os Collor já não eram mais tão confiáveis assim. Afinal, foi a Abril e a Globo quem levaram Fernando Collor ao poder e também as que o derrubaram num rito sumário com verniz de julgamento político republicano.

Mas como declinar do convite? Como dizer não à Globo? Procurei o Bodão dois dias depois e ponderei sobre a questão familiar e a delicadeza do momento político. Ele, estupefacto, afirmou que eu não deveria dizer não, afinal, teria motorista, apartamento alugado pela empresa com vista para o mar, cota de passagens aéreas e, além do mais, o custo de vida em Alagoas era muito, muito inferior.

Ao final, certo de que não me seduziria, limitou-se a dizer no jargão futebolístico, aliás, sua especialidade: – Pipocou! Dali em diante, sempre que me encontrava nos corredores repetia o jargão. Para aquela vaga seguiu depois outro Marco, o Nascimento, hoje mais uma vez ao meu lado na Record. Sobre o Marco Nascimento e o que a irmã do Aecinho, Andréa, fez com ele em Belo Horizonte há detalhes aqui.

Depois disso, enquanto estive na emissora, sempre acompanhei as notícias de Alagoas por curiosidade. A relação, de fato, nunca foi lá essas coisas com a Globo. Na verdade, o Marco Nascimento, com seu estilo conciliador, deve ter tido papel importante para contornar as crises.

Tudo isso me veio à mente assim que soube, no Sábado, que o Fantástico exibiria uma entrevista com a ex-primeira dama, Rosane, num momento em que, coincidência ou não, Fernando Collor de Mello assume protagonismo na CPI do Cachoeira (enquadrando a "mídia bandida") e cobra do procurador-geral da República explicações sobre supostas violações funcionais.

Estaria a Globo, em parceria com a Abril, tentando intimidar o agora senador? Para quem viu bem de perto como é feito jornalixo, desculpe, jornalismo político naquela emissora, nos últimos 15 anos devo dizer que não duvidaria que a entrevista tenha sido feita sob encomenda para atingir o inimigo. Como a verdade se impõe com o tempo, basta apenas esperar…

E a TV Gazeta de Alagoas, sobreviverá em parceria com a Globo? Quem vai cobrar esta conta depois, e como?

*jornalista no blog DoLaDoDeLá

Fonte: Blog do Miro