Povos do campo discutem modelo de desenvolvimento alternativo

O Encontro dos Trabalhadores, Trabalhadoras, e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, que reúne sete mil trabalhadores esta semana em Brasília (DF) vai discutir a implantação de um modelo de desenvolvimento alternativo para o país, baseado no documento de propostas para um desenvolvimento em contraponto ao agronegócio.

Povos do campo discutem modelo de desenvolvimento alternativo - MST

O documento propõe a efetivação da reforma agrária, acesso à terra, fortalecimento da agricultura familiar, fomento à produção agroecológica e orgânica. O objetivo é criar uma identidade conjunta, que contemple a realidade dos povos e respeite a diversidade das categorias.

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Construído a partir do diálogo com os movimentos sociais, a ideia é que o novo modelo de desenvolvimento seja colocado em prática. “Nós temos que ter um programa de classe, temos que nos unir. 80% do nosso território são usados pelo agronegócio. Temos que nos juntar para vencer”, disse João Pedro Stedile, da direção Nacional do MST.

Ao citar o agronegócio como agente devastador do meio ambiente e “que vê como empecilho as comunidades do campo para o desenvolvimento”, Elisângela Araújo, coordenadora Geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf) reafirmou que não é esse modelo que os movimentos defendem.

“A nossa luta passa pelo desenvolvimento do território com sustentabilidade e soberania alimentar. Isso se faz com ampla reforma agrária, que gera distribuição de renda e produção de alimentos saudáveis”, disse.

Na ocasião, a coordenadora também pontuou o fortalecimento das associações e cooperativas, a reestruturação das políticas de crédito como pontos estruturantes para um novo padrão de sociedade. Para ela, o país precisa inserir a agricultura familiar e camponesa como fator estratégico para o desenvolvimento socioeconômico.

O bispo emérito de Goiás e conselheiro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dom Tomás Balduino, elogiou a iniciativa dos movimentos do campo de organizar o Encontro Unitário. “Esta mobilização é muito oportuna e urgente visto que o adversário instalado no empresariado rural e na bancada ruralista do Congresso quer, a todo custo, enfraquecer vocês pela desunião e pelo isolamento”, disse Dom Tomás, em carta enviada à organização do encontro.

Conflitos no campo

O Encontro Unitário dos povos acontece 51 anos após o primeiro Congresso Nacional Camponês, que ocorreu em Belo Horizonte (MG). Na época o país era comandado por João Goulart. O centro do debate era o fim da divisão de produção com os latifundiários e o acesso à previdência.

Willian Clemente, da Contag, ao falar do marco histórico, frisou que esse Encontro reinaugura uma nova fase da luta camponesa. Ao fazer críticas ao governo Dilma, “que tem feito uma preferência clara pelo agronegócio”, ressaltou que o governo deveria, ao invés de criar mais um pacote para indústria, implantar um programa de aceleração da reforma agrária.

As lideranças citaram os companheiros que tombaram durante a luta. Segundo publicação anual Conflitos no Campo Brasil, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram registrados assassinatos de 29 trabalhadores rurais em 2011.

Embora o número seja menor que no ano anterior, quando foram assassinados 34 trabalhadores, houve aumento no número de trabalhadores e trabalhadoras ameaçadas de morte, de 177,6%.

Para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) “o modelo de desenvolvimento que ceifa vidas e coloca na cadeia lideranças que lutam pela terra, não pode ser chamado de desenvolvimento”, concluiu Lindomar Terena, liderança indígena.

Luta das mulheres

O Encontro Unitário reservou um momento na programação para a Plenária das Mulheres, que debatem sobre questões comuns a suas organizações. A plenária tem como foco principal a importância da luta das mulheres camponesas e como tornar essa questão visível no encontro. A reflexão feita é que as problemáticas que atingem o campo e principalmente as mulheres precisam ganhar relevância.

Historicamente, as mulheres são vítimas da violência doméstica e também sofrem violência nos conflitos do campo, mas isso é escondido e naturalizado. As mulheres do campo precisam reafirmar a forte presença das mulheres na luta contra o sistema capitalista e também contra o patriarcado.

Da Redação em Brasília
Com informações do MST