Veja e Cachoeira: associação mal explicada

Em fins de abril, enquanto a CPMI do Cachoeira dava os seus primeiros passos em Brasília, na Inglaterra dois dos maiores magnatas da mídia global, Rupert e James Murdoch, pai e filho, prestavam depoimento a uma comissão criada para investigar o escândalo de espionagem ilegal promovida pelo jornal News of the World.

A chamada Comissão Leveson apurou que o tablóide, de propriedade da família Murdoch, operava uma rede clandestina de interceptação telefônica de políticos, artistas, esportistas e toda a sorte de celebridades que pudessem render fofocas para estampar as páginas e o site do jornal.

Os crimes do News of the World – e de outros veículos “murdochianos” também beneficiados pelo esquema de arapongagem – foram graves ao ponto de resultarem na prisão de mais de uma dezena de jornalistas, além de funcionários públicos e agentes da polícia. Em julho de 2011 o jornal foi fechado por absoluta falta de credibilidade para se manter em circulação.

No Brasil, a revista Veja se associou à quadrilha de Carlos Cachoeira para obter, de forma ilegal, informações privilegiadas com objetivos de atacar os governos Lula e Dilma, bem como proteger os interesses econômicos e políticos do grupo comandado pelo bicheiro.

A convocação do jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da Veja em Brasília e principal interlocutor de Cachoeira na mídia, é defendida pelo PT desde o início da CPMI. Parlamentares de outros partidos, entretanto, consideram que tal proposta seria uma “tentativa de cerceamento à liberdade de imprensa”, argumento contestado pelo deputado Emiliano José (PT-BA), integrante da CPMI.

“Ora, na Inglaterra foram ouvidos não apenas jornalistas e editores, mas os próprios magnatas James e Rupert Murdoch, e nem por isso falaram em ataque à imprensa. Aqui, quando defendemos a convocação de um jornalista para que este explique suas relações – que extrapolam todos os limites éticos do jornalismo – com uma organização criminosa, falam em ‘Estado policial’, que é um argumento sem qualquer vínculo com a realidade”, disse Emiliano José, que é jornalista há mais de 30 anos.

“Na verdade, notamos que não houve nenhum abalo à democracia britânica pelo fato de a Justiça daquele país indiciar jornalistas, inclusive um ex-porta-voz do primeiro ministro David Cameron, por terem praticado crimes no exercício da profissão”, complementou o parlamentar.

O vice-presidente da CPMI do Cachoeira, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), é um dos defensores do comparecimento de Policarpo Júnior à comissão. “Esse jornalista precisa esclarecer a natureza do seu envolvimento, de longa data, com o crime organizado por Cachoeira. Não se trata de cerceamento da liberdade de imprensa. Da mesma forma que a nossa Constituição protege a liberdade de imprensa, ela também protege o direito à intimidade e essa organização criminosa fere esse direito”, resumiu.

Fonte: Informes PT