Vice quer taxar grandes fortunas contra a crise no Reino Unido
Em meio à crise na zona do euro, que arrastou o Reino Unido para um período de recessão, o vice-primeiro ministro britânico Nick Clegg, do Partido Liberal Democrata, propôs nesta terça (28) a criação de um imposto emergencial sobre grandes fortunas. O objetivo, segundo ele, é minimizar os efeitos do arrocho. Mas, no contexto das duras medidas impostas à população, que contaram com o aval do próprio Clegg, a sugestão do vice-premiê é como um grão de areia em meio ao deserto da austeridade.
Publicado 29/08/2012 11:03
“Se vamos pedir às pessoas mais sacrifícios por um período maior de tempo, por um período maior de aperto como país, então precisamos ter a certeza de que as pessoas entendam que isso está sendo feito da maneira mais justa e progressiva possível”, disse Clegg em entrevista ao jornal The Guardian, tentando minimizar o impacto na opinião popular das medidas que fazem sofrer a classe trabalhadora.
Para isso, afirmou o vice, é preciso que “pessoas com uma fortuna pessoal bastante considerável façam uma contribuição extra”. “A iniciativa é fazer com que grandes fortunas tenham reflexo no sistema fiscal de um modo que não vemos hoje”, explicou.
O Partido Liberal Democrata, liderado por Nick Clegg, governa o Reino Unido em coalizão com o Partido Conservador do primeiro-ministro David Cameron, que em março deste ano apresentou um pacote fiscal que cortou impostos sobre grandes rendimentos. Por isso, as declarações de Clegg prometem mais uma onda de atritos entre os dois partidos, colocando novamente em risco a coalizão que sustenta o governo.
O vice defende uma “contribuição por tempo limitado” dos britânicos mais ricos. “Enquanto me orgulho de algumas das coisas que fizemos com o governo, eu acredito que precisamos implementar a equidade no que fizermos nas próximas fases de aperto fiscal. Se não o fizermos, não acho que o processo será aceitável ou sustentável política e economicamente”, sublinhou.
Ao mesmo tempo e de forma contraditória, Clegg defendeu o Ministro das Finanças, George Osborne, braço direito de Cameron e responsável por cortar o imposto para os mais ricos e impor uma forte política de austeridade. Osborne é o principal alvo dos ataques da oposição Trabalhista, que o classifica como um “posh boy”, ou “garoto rico” no poder.
A defesa de Clegg em relação a Osborne só vem para reforçar o fato de que, na verdade, ele e Cameron não possuem divergências de fundo, ambos são conservadores e fazem parte de um governo que ataca os direitos dos trabalhadores e dos povos do mundo.
Déficit e offshores
O Reino Unido está em recessão há três quadrimestres e deve fechar 2012 com PIB próximo a zero, segundo dados do Tesouro britânico. Os números foram considerados abaixo do esperado por especialistas e o governo tem se mostrado disposto a reforçar a fiscalização sobre o pagamento de impostos para melhorar a arrecadação.
Ao lançar o pacote fiscal, em março, o ministro das Finanças, George Osborne, afirmou que driblar o Fisco é “moralmente repugnante”. Investigações do programa Panorama, da rede estatal BBC, conduzidas logo em seguida ao anúncio de Osborne, mostraram que muitas empresas britânicas desafiam o Tesouro ao buscar paraísos fiscais para conduzir seus negócios, como Luxemburgo e Ilhas Jersey.
Com Opera Mundi