CNBB: Igreja não deve se envolver na batalha política

Um dia após a Arquidiocese de São Paulo ter atacado a Igreja Universal, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Raymundo Damasceno, 75, disse nesta sexta-feira (14) que a Igreja Católica não quer se colocar no lugar dos políticos.

"Damos critérios e deixamos o eleitor muito livre no exercício de seu direito e dever. O papa diz muito claramente que a Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política. Isso é próprio do político, do Estado", declarou.

"A Igreja não quer se colocar no lugar dos políticos, não quer se colocar no lugar do Estado. Mas a Igreja não pode ignorar a política", completou o arcebispo de Aparecida (180 km de São Paulo).

Especificamente sobre a nota da Arquidiocese de SP que ressalta a ligação de Celso Russomanno (PRB) com os evangélicos, dom Raymundo disse que não leu o texto e que essa foi uma "orientação" pontual "porque o problema é lá [SP]".

"Aqui [em Aparecida] não estou tendo nenhum problema com a [Igreja] Universal. Cada diocese tem sua realidade própria", afirmou.

Dom Raymundo recebeu a Folha em sua sala, no Seminário Bom Jesus, em Aparecida. Sentado na cabeceira de uma mesa de reuniões, começou a conversa consultando papéis onde havia frases prontas. Ao longo da conversa, livrou-se do roteiro, mas procurou evitar polêmicas todo o tempo.

Questionado sobre o uso da estrutura da Universal para campanha de Russomanno, por exemplo, disse: "Não entraria nisso porque não é da Igreja Católica. Não sei como eles veem essas questões. Falo da nossa orientação. Você não vê nenhum bispo tomando partido político de nenhum candidato".

Segundo ele, a Igreja Católica só faria campanha eleitoral diante de um caso excepcional: "Por exemplo, todos os candidatos contra a Igreja. Aí, é claro, tem que tomar partido. O correto é orientar, dar critérios, formar".

Desserviço à democracia

O Estado laico é uma conquista democrática, republicana, que se consolidou apenas recentemente. A luta entre a Igreja Católica e a Universal e demais igrejas pentecostalistas por poder político resulta em um grande desserviço à democracia e aos valores republicanos.

A campanha eleitoral pede mais embate político, mais discussão de ideias, mais propostas sobre como resolver os angustiantes problemas da população.

A vida política nacional já é tão impregnada de conservadorismo, que uma dose a mais, sob a forma de sectarismo religioso, deseduca o povo e dificulta o avanço de sua consciência política. O país precisa de renovação, o que só será possível com a eleição de governantes progressistas, defensores, entre outras conquistas, do Estado democrático, laico e republicano.

Fonte: Da redação, com informações da Folha de S.Paulo

-Matéria modificada em 15/09 às 13h25.

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