Oficial que liderou repressão será condecorado na Espanha

Em mais uma polêmica decisão, o governo espanhol decidiu condecorar nesta terça-feira (2) o chefe de polícia Javier Nogueroles, responsável pela UIP (Unidade de Intervenção Policial) de Madri. Nogueroles foi o responsável pela truculenta atuação da polícia madrilenha durante a repressão contra os manifestantes que tentaram cercar o Congresso espanhol há uma semana (25), em um protesto que terminou com 64 feridos (27 deles policiais) e 35 presos.

Ele receberá uma medalha ao mérito com distintivo vermelho, uma das maiores distinções outorgadas à polícia daquele país. 

Na ocasião, a atuação dos oficiais de segurança foi duramente criticada pela opinião pública espanhola, até mesmo por grupos que defendem a atuação econômica do governo, que foi a principal razão do protesto.

Além da violência perpetrada contra os manifestantes que se concentraram na Praça Netuno, os policiais também perseguiram pessoas na estação de metrô Atocha, ameaçando até mesmo aqueles que não se encontravam na manifestação e se recusando a se identificarem para a imprensa.

A decisão causou indignação entre os sindicatos policiais. O SUP (Sindicato Unificado da Polícia) denunciou que a condecoração se dará por “méritos falsificados e inexistentes”, enquanto “se ignora dar reconhecimento a outros agentes que participaram de uma importante operação anti-drogas”.

O secretário provincial de Sevilha da unidade, Manuel Espino, lembrou que o atual sistema de condecoração se dá baseado em uma lei de 1964 (ainda na época da ditadura de Franco), que considera estar “opaca”. Segundo Espino, esse esquecimento foi relatado ao Conselho e à Direção-Geral da Polícia na sexta-feira passada (28). Também afirmou que a Chefia Provincial de Sevilha ordenou a abertura de uma investigação sobre os fatos que levaram à condecoração de Nogueroles e que, dependendo de seus resultados, o órgão poderá fazer uma denúncia por falsidade de documentos públicos.

Segundo fontes policiais ao site espanhol Público, esse reconhecimento teria ocorrido antes do dia 25, em razão ao “último ano de trabalho frente à UIP”.

Já a representante do governo espanhol na Comunidade Autônoma de Madri, Cristina Cifuentes, voltou a defender a atuação policial durante os últimos protestos, insistindo que “as manifestações devem ocorrer conforme a Constituição e as leis”. “É dever da polícia garantir a ordem, a segurança e proteger a Constituição e o estado de direito, o que inclui a proteção do Congresso”, afirmou a dirigente, que enfrenta uma campanha para reunir assinaturas pedindo sua demissão do cargo.

Fonte: Opera Mundi