Trabalhadores protestam e organizam greve geral na Europa

Trabalhadores de três dos países mais afetados pela crise da dívida soberana europeia organizaram nesta quinta-feira (4) uma série de atos em reação às medidas de austeridade fiscal que os governos de Portugal, Espanha e Grécia têm adotado para se submenter aos aportes financeiros da Troika (grupo formado por Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia).

grécia

Enquanto na Grécia, protestos de trabalhadores terminaram com mais de cem prisões, na Espanha e em Portugal, sindicatos planejam uma greve geral cujo objetivo é se espalhar por toda a zona euro.

Em Atenas, um grupo de operários foi reprimido pela polícia de Atenas ao tentar invadir o prédio do Ministério da Defesa grego. Ao menos 250 trabalhadores de um estaleiro que moderniza submarinos militares alemães estavam reunidos para protestar contra os atrasos no pagamento de seus salários. Ao final dos protestos, 106 pessoas foram presas.

Desde o início da agenda de cortes de gastos públicos na Grécia, o estaleiro Hellenic Shipyards S.A. perdeu a maior parte de seu financiamento. De acordo com os manifestantes, há seis meses a empresa não paga os salários de seus funcionários.

O chefe do Estado-Maior do Exército grego, general Mihail Kostarakos, saiu do prédio para negociar uma solução com os manifestantes, mas acabou vaiado. A polícia foi convocada, cercou o grupo e os expulsou a golpes de cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo. Televisões locais mostravam cenas de homens ensanguentados.

Após a detenção de centenas de pessoas, os manifestantes se dirigiram ao quartel-general da polícia para exigir a libertação dos detidos.

Nas proximidades do quartel, no entanto, os policiais voltaram a reprimir a manifestação com gás lacrimogêneo. Segundo a imprensa local, pelo menos três pessoas ficaram feridas durante as distintas ofensivas policiais.

Repúdio

Em Lisboa, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho teve de enfrentar uma moção de repúdio do Parlamento, por conta de seu amplo programa de concessão de bens públicos à iniciativa privada, movida pelos partidos de esquerda BE (Bloco de Esquerda) e PCP (Partido Comunista Português).

No entanto, por 132 votos a 24, ela foi reprovada com folga devido à ampla maioria parlamentar do conservador PSD (Partido Social Democrata) e à abstenção da oposção socialista, com 74 representantes. No entanto, as duras críticas feitas à atual administração resultaram em mais um episódio de desgaste político para o premiê.

Na vizinha Espanha, UGT (União Geral de Trabalhadores) e CCOO (Confederação Sindical de Comissões Operárias), os dois maiores sindicatos do país, já anunciaram que a segunda greve geral que o presidente de governo Mariano Rajoy enfrentará em menos de um ano no cargo ocorrerá ainda na primeira quinzena do próximo mês de novembro.

Ao jornal Público, o secretário da UGT, Toni Ferrer, assegurou que a paralisação “provavelmente” ocorrerá no dia 14 de novembro. Ele alega que todos os detalhes serão acordados entre as organizações sindicais, mas nega que sua afirmação seja “prematura". Trabalhadores portugueses também planejam uma greve geral para a mesma época do ano.

A CES (Confederação Sindical Europeia, na sigla em espanhol), deve reunir sua cúpula no próximo dia 17 de outubro e a expectativa de portugueses e espanhóis é de que, nessa ocasião, outros países da periferia da Zona do Euro se unam às mobilizações. O objetivo principal é fazer coincidir os protestos com o trâmite do orçamento espanhol para 2013 no Legislativo.

Rodovias

Horas antes de a bancada de esquerda do parlamento português apresentar suas propostas de censura ao governo do conservador PSD, a empresa pública EP (Estradas de Portugal) concluía mais um contrato de concessão de rodovias formulado entre 2008 e 2010.

Na madrugada desta quinta-feira (04), o governo completava modificações de acordos firmados em agosto com a concessionária Algarve Litoral. A partir de um memorando de entendimento, as partes concordaram com uma redução do investimento e dos valores que serão cobrados ao longo dos 30 anos de vigência do contrato.

De acordo com a EP, o Estado entregará à iniciativa privada a responsabilidade por 155 milhões de euros em investimentos em infraestrutura rodoviária. Desse valor, 110 milhões de euros seriam empregados em bens fixos e outros 45 milhões em despesas operacionais.

Já o ministro espanhol de Economia, Luis de Guindos, disse diante de um auditório em Londres que a Espanha "não necessita um resgate", mas de uma intervenção "com certas condições" do BCE (Banco Central Europeu) no mercado secundário de dívida soberana. No entanto, um grupo de manifestantes começou a exibir cartazes com os dizeres "Spain is not for sale" (A Espanha não está à venda, em inglês).

Fonte: Opera Mundi