"Alckmin e sua tropa deviam ler Clarice Lispector", afirma poeta

O excelente artigo de Maria Rita Kehl na Ilustríssima (publicado em 16 de setembro*), "Alckmin usa a mesma retórica dos matadores da ditadura", sobre uma ação infeliz da PM paulista, mereceu uma resposta burocrática e malcriada de um subsecretário de Comunicação do governo do Estado de São Paulo, Marcio Aith, intitulada "Psicanálise de embromação" (em 23 de setembro)**.

O governador e sua tropa deviam ler o que Clarice Lispector escreveu quando mataram um bandido chamado Mineirinho, há muitos anos atrás:

"Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina –porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro."

Tenho certeza que foi isso o que Maria Rita Kehl sentiu e tão bem exprimiu.

Escrito pelo poeta Armando Freitas Filho, que é ensaísta, autor do livro "Palavra", de 1963, ganhou o Prêmio Jabuti em 1984, com o livro "3×4", e o Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Fundação Biblioteca Nacional, em 2000, com "Fio terra".

* ** publicados na Folha de S. Paulo

Fonte: Painel do Leitor/Meu Olhar – Folha de S. Paulo