SIP: ato e contraconferência mobilizam por regulação da mídia

Depois da divulgação de uma carta assinada por personalidades, brasileiras e estrangeiras, contra ações da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), reunida desde a sexta-feira (12) em São Paulo, dezenas de ativistas que defendem a democratização da comunicação se concentraram na manhã desta segunda (15), em frente ao Hotel Renaissance, centro da capital paulista, para reforçar o descontentamento com o monopólio de comunicação na América Latina. À tarde, acontece uma contraconferência.


Fotos: Deborah Moreira

Entre as 15 e 21 horas de hoje, haverá uma série de debates para contrapor as ideias fomentadas entre os barões da grande mídia hegemônica. Emir Sader (Carta Maior), Renato Rovai (da Revista Forum), Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania), Venício Lima (UnB e autor do livro Mídia Teoria e Política); e presenças internacionais como Edison Lanza, professor da Universidade da República do Uruguai; Marcia Zonta (correspondente do Brasil de Fato no Peru); Néstor Busso (Conselho Federal de Comunicação Audiovisual, da Argentina); e Pancho Ordóñez, professor equatoriano.

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O ato e a contraconferência são promovidos pela campanha Para Expressar a Liberdade, formada por diversos coletivos da imprensa alternativa, fundações e instituições como o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, a União Nacional dos Estudantes (UNE), União da Juventude Socialista (UJS); Intervozes, Coletivo Brasil de Comunicação Social; Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada, entre outros. Também participam da campanha os veículos de mídia alternativa que participam do debate, além da Caros Amigos e Casa Fora do Eixo (onde acontecerão as atividades).

João Brant, do Intervozes, fez um alerta sobre a falta de pluralidade e diversidade nos participantes da SIP, no ato desta manhã.

“A SIP está realizando sua 68º assembleia. É preciso mostrar que a liberdade de expressão que a SIP defende não é para todos. A SIP não coloca como referência o pluralismo e a diversidade, tendo sido referência em momentos em que o capital tenta desestabilizar governos progressistas. A nossa tentativa aqui é defender a liberdade de expressão para todos, afirmar a necessidade de debater a concentração [monopólio] e da defesa do pluralismo e da liberdade. Sem isso, nos parece que esse discurso da liberdade é hipócrita”, declarou João, que também integra o FNDC.


Alguns dos cartazes com pautas sugeridas às empresas de comunicação reunidas na SIP

Para exemplificar, João Brant cita o caso da Argentina que recentemente aprovou uma nova Lei de Meios para tentar democratizar a imprensa no país. Para João, o caso é emblemático. “A lei foi aprovada com parecer favorável de organizações como a Unesco e a OEA [Organização dos Estados Americanos], e que está sendo tomada como uma afronta à liberdade de expressão. Na verdade a lei gera desconcentração dos grupos, do Clarín principalmente, para ampliar a liberdade de expressão. É o que a gente tá fazendo aqui também, buscando medidas de desconcentração que ampliem a liberdade de expressão”, reforça João Brant, referindo-se ao discurso manipulador feito por representantes do Clarín durante a SIP.

Com relação à situação no país vizinho, Altamiro Borges, do Barão de Itararé, alerta para o caráter político da SIP, que neste encontro mira não somente a Argentina, mas também o Equador.

“Argentina e Equador que estão com processos de modificação de suas legislações de comunicação estão na mira. Na Argentina, a lei entra em vigor mesmo em dezembro. Então isso aqui é um palanque para dezembro. A SIP não é uma entidade empresarial, é uma entidade política, desses donos dos grandes meios de comunicação contra governos progressistas na América Latina”, declara Altamiro Borges, também secretário de Mídia do PCdoB.


Ativistas esticam faixa no intervalo do farol, no cruzamento da Alameda Santos e Hadock Lobo

Altamiro Borges aproveitou a oportunidade e fez uma provocação: “Ô barões da mídia: falem sobre o Assange [Julian], sobre o Camarante [repórter da Folha de S. Paulo], sobre a Folha Bancária [do Sindicato dos Bancários, que teve sedes invadidas para busca e apreensão de material], sobre os blogueiros brasileiros que estão sendo perseguidos; sobre os jornalistas da Colômbia, que é recordista mundial de assassinatos de jornalistas. Um ex-presidente da SIP é dono de jornal na Colômbia”, afirma Altamiro Borges, referindo-se a algumas das pautas sugeridas pelos ativistas presentes.

Munidos de cartazes, narizes de palhaço e apitos, eles chamavam a atenção de quem entrava no hotel, onde acontece o encontro, e dos motoristas que trafegavam na região, estendendo uma grande faixa onde era possível ler: "O monopólio da mídia sufoca a liberdade de expressão".

Nos cartazes erguidos durante o protesto, imagens estampavam sugestões de pautas para os participantes da SIP. Entre elas, a imagem de Julian Assange, do WikiLeaks, censurado e mantido preso na embaixada do Equador, na Inglaterra; de Maria Rita Kehl, demitida de O Estado de S. Paulo após publicar artigo que contrariava a opinião do jornal; de integrante da Marcha das Vadias, que teve imagens de suas manifestações censuradas pelo Facebook, entre outras.

Além de alertar para o caráter político da SIP, o jornalista e também blogueiro lembrou a história da formação da Sociedade Interamericana de Imprensa: “É um palanque político, que foi fundado em 1940, inclusive numa assembleia realizada no governo de Fulgêncio Batista, em Havana, Cuba, e que a partir de um determinado momento passou a ser totalmente controlado pelos Estados Unidos.”

Desculpe a nossa Falha


Lino Bocchini: censurado pela Folha de S. Paulo, foi obrigado a retirar do ar o blog Falha de S. Paulo

Entre os ativistas, estava presente o jornalista Lino Ito Bocchini, que juntamente com seu irmão, Mário, estão sendo processados pelo jornal Folha de S. Paulo por causa do blog Falha de São Paulo, que fazia uma crítica à cobertura do jornal. Em setembro de 2010 a Folha de S. Paulo tirou o blog do ar, por meio de uma liminar que cassou o domínio e conteúdo. Caso mantivessem o material no ar, eles seriam obrigados a pagar multa diária de R$ 10 mil, depois, baixada para R$ 1.000.

“Não temos esse dinheiro nem de longe, então derrubamos tudo na hora. Eles estão com um processo de 88 páginas em cima da gente, pedindo dinheiro por indenização para o que eles chamam de danos morais. É um caso inédito no Brasil, demonstrando uma total falta de compreensão da Folha do que é a internet, a paródia, do que é uma liberdade real de expressão, não só para os patrões",explicou Lino.

Ele contou que, como o caso ainda corre na justiça, por conta da Folha de S. Paulo não desistir do processo, eles precisam manter a luta com um novo blog, o Desculpe a Nossa Falha.

"Então, estamos indo para a segunda instância na Justiça, tentando voltar ao ar. Hoje em dia temos o blog Desculpe a Nossa Falha, onde não postamos nada do blog anterior, mas que ganhou esse nome por conta do caso mas tem a função de ser uma memória do caso. E hoje em dia, após quase dois anos, a gente posta fatos referentes à comunicação de uma maneira geral. A gente não tem a escolha de parar porque eles mantêm o processo. E por isso estamos aqui hoje neste ano. Sou a favor da liberdade de imprensa da Folha, mas eu gostaria de ter o mesmo direito deles. E isso me é negado pelo próprio jornal", conclui.

Repórter sofre ameaças de morte

Uma das pautas sugeridas para serem discutidas durante a SIP pelos ativistas é a do jornalista André Caramante, da Folha de S. Paulo, que atua na área policial há 13 anos, e foi afastado da redação por medida de segurança em meados de setembro deste ano. Há cerca de três meses ele vinha sofrendo ameaças após publicação da reportagem que denunciou a violência da polícia militar em São Paulo e de integrantes e ex-integrantes da Rota da PM. No caso, o ex-chefe da Rota, o coronel Paulo Adriano Lopes Lucinda Telhada, que se elegeu vereador pelo PSDB na capital paulista e se tornou cabo eleitoral do candidato a prefeito José Serra, de seu partido.

O que é a SIP?

São Paulo recebe desde a sexta (12) até terça (16) a 68º Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). A SIP tem sido, nos últimos anos, a principal porta-voz dos donos da mídia no continente, uma verdadeira plataforma política do PIG.


Um repórter da TV Globo foi enviado para cobrir o ato contra o monopólio da comunicação. O que será veiculado?

Contraconferência

A contraconferência acontece na Casa Fora do Eixo, na Rua Scuvero, 282, Liberdade, São Paulo, e pode ser acompanhada pessoalmente ou pela PosTV, mídia colaborativa.

Programação:

Deborah Moreira
Da Redação do Vermelho

(atualizada às 15h11 em 15/10/12)