“O JT morreu quando abandonou seu público”, diz ex-editor

Antes mesmo de surgir o Jornal da Tarde, um caderno de esportes semanal, que circulava aos domingos e concorria com títulos como Gazeta Esportiva, já reunia o que seria mais tarde a equipe de fundadores do JT. Mino Carta liderava e, entre eles, estavam nomes como Luis Nassif, Hamilton Almeida Filho e Tão Gomes Pinto, o primeiro editor de esportes da publicação.

Tão iniciou a carreira na editoria de esportes do Última Hora e depois foi trabalhar no Notícias Populares. De lá, seus textos esportivos ganharam visibilidade e chamaram atenção de Mino Carta. Daí surgiu o convite para ganhar três vezes mais.

O jornalista conta que no fechamento, aos finais de semana, a redação recebia o esforço de grandes nomes vindos do Estadão. O teste, como ele chama esse caderno de esportes, transformou-se no JT, posteriormente, em 1966. “O jornal surgiu para atender uma nova geração de leitores jovens que não tinha espaço no Estadão”.

Em seu depoimento, Tão relata que o JT já havia morrido há, aproximadamente, 10 anos, quando deixou de atender seu público original. “O jornal foi primoroso com seus textos bem acabados, quase literários, mas abandonou seu público e tentou atingir leitores das classes C, D e E. A partir daí começou a morrer”. O jornalista lamenta que o Grupo Estado tenha acabado com a marca sem sequer tentar migrá-la para outra plataforma. “Trataram o JT de uma forma muito primária para um jornal com a representatividade que ele teve”.

Revista Imprensa: O que você diz sobre a morte do Jornal da Tarde?
Tão Gomes Pinto: O JT morreu há muito tempo. A partir do momento em que ele abandonou um público um pouco mais interessado em cultura para tentar atingir leitores das classes C, D e E.

Revista Imprensa: Você lia o JT recentemente?
TGP: Não. Há muito tempo deixei de ler.

Revista Imprensa: Muitos falam sobre o JT ter sido revolucionário. No que consistia essa revolução?
TGP: O jornal era tratado quase como um produto literário. O texto era muito bem cuidado. As reportagens eram de página inteira e em muitos casos aprofundadas. Dava furos e tinha notícias muito bem editadas. Edição, essa é a palavra. Ele era muito bem editado.

Revista Imprensa: Que público ele atingia na época?
TGP: Ele surgiu para atender um público jovem que não tinha muito espaço no Estadão, que era um jornal de pessoas de mais idade. Era uma geração importante que estava surgindo no Brasil.

Revista Imprensa: O que o jornalismo perde com o fim do JT?
TGP: Acho que perde a forma. Perde essa preocupação com a edição e a tentativa de fazer um jornal diferenciado. O JT foi muito sofisticado para ser comparado com a imprensa de hoje. Sem dúvida foi um dos jornais mais importantes do Brasil junto com outros títulos como Correio Braziliense, Jornal do Brasil, Estadão e O Globo.

Revista Imprensa: Você é pessimista quanto ao fim dos jornais em papel?
TGP: Eu não sou pessimista. Isso e inevitável. Só me incomoda o fato de o Grupo Estado dar esse tratamento ao JT, acabar com ele e não procurar uma forma de tê-lo em outras plataformas.

Fonte: Portal Imprensa