PMs suspeitos de executarem servente são acusados de outra morte

A Polícia Civil de São Paulo investiga se os policiais militares presos sob a acusação de assassinar no sábado (10) o servente Paulo Batista do Nascimento, no Campo Limpo, zona sul da capital, mataram outro suspeito que também estava dominado. Testemunhas dão detalhes da morte do servente, que não foi gravada por cinegrafista amador. Será que o governo de São Paulo, enfim, acordou para a onda de execuções de civis no estado?

Essa outra suposta execução ocorreu minutos antes, no mesmo bairro. O ajudante Gefferson Oliveira Soares do Nascimento, 23, estava no mesmo veículo de Paulo e trocou tiros com os PMs, de acordo com os policiais suspeitos.

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Na versão apresentada pelos militares na delegacia, durante o registro do caso, eles só atiraram por necessidade e por "resistência seguida de morte".

Ainda de acordo com relato policial, Gefferson foi baleado e socorrido. Paulo, por sua vez, conseguiu fugir e foi encontrado em uma viela, minutos depois, sem vida.

Imagens feitas por cinegrafista amador e divulgadas pelo dominical "Fantástico", da Rede Globo, revelaram que a verdadeira versão da morte de Paulo. O suspeito que já havia sido dominado pelos PMs é levado para perto de um carro da PM, e um dos policiais aponta uma arma em sua direção, quando se houve um disparo. As imagens não mostram o instante do tiro, já que a pessoa que filmava se escondeu assustada. As imagens em seguida são do carro deixando o local.

Testemunhas ouvidas pelo jornal Folha de S. Paulo deram detalhes da cena. Um deles é que, após o disparo – momento em que o cinegrafista se esconde e perde o foco -, Paulo conseguiu fugir dos PMs e se esconder em mercadinho na mesma rua. Lá dentro, foi novamente baleado e arrastado até o carro. A versão foi contada à Folha por cinco moradores em diferentes pontos da região.

De acordo com Polícia Civil, Paulo recebeu três tiros (nos braços e um no peito). Dois tiros, segundo a polícia, foram dados pelo soldado Marcelo de Oliveira Silva.

Vizinhos também afirmaram que a morte de Gefferson foi uma "execução" – que os PMs também atiraram no rapaz já rendido e que as cenas de motos caídas, como apareceram nas imagens de TV e jornais, foi armada.

O diretor do Departamento de Homicídios (DHPP), Jorge Carlos Carrasco, disse que o caso é investigado e alguns questionamentos só poderão ser respondidos após "provas técnicas, mais depoimentos e oitivas de testemunhas".

A Folha apurou que uma das linhas de investigação é a suposta ligação de Paulo e Gefferson com o tráfico de drogas de Paraisópolis e a ligação deles com o traficante Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, suspeito de ordenar a morte de PMs.

A polícia pedirá a prisão preventiva do tenente Halstons Kay Yin Chen e dos soldados Francisco Anderson Henrique, Marcelo de Oliveira Silva, Jaílson Pimentel de Almeida e Diógenes de Melo.

O advogado José Miguel da Silva Júnior, que defende o soldado Henrique e o tenente Chen, disse que seus clientes negam ter atirado. A reportagem não conseguiu falar com os advogados dos outros três policiais.

Com Folha de S. Paulo