Inca: câncer de mama recua, mas drogas ainda são restritas

Levantamento divulgado nesta terça-feira (27) pelo Inca revela menor incidência de casos em cinco cidades do país. Entretanto, médicos e pacientes reclamam dos critérios que limitam a distribuição, pela rede pública, de medicamento específico para a doença

No Dia Nacional de Combate ao Câncer, comemorado nesta terça, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgou novos dados sobre a doença na mama, que revelam queda na incidência e na mortalidade em cinco das 11 cidades estudadas. Segundo estimativas, o Brasil registrou, neste ano, 520 mil novos casos de câncer, sendo 52 mil de mama.

O Distrito Federal ficou de fora da pesquisa por não ter dados registrados por oito anos consecutivos. Para o Ministério da Saúde, o resultado positivo está relacionado às medidas de ampliação do acesso a exames de prevenção e tratamento. Entretanto, algumas delas têm sido questionadas por entidades médicas e pacientes.

O principal motivo de crítica é a incorporação restritiva no Sistema Único de Saúde (SUS) do medicamento trastuzumabe, para o tratamento de câncer de mama, a partir de janeiro de 2013. A portaria que regulamentou a utilização do remédio — usado há cerca de 10 anos na rede particular de saúde — foi publicada em julho deste ano. No entanto, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) do Ministério da Saúde aprovou a distribuição do medicamento somente nos estágios inicial e localmente avançado, não incluindo pacientes em estágio de metástase, quando a doença atinge outros órgãos. A limitação é contestada por médicos e pacientes.

Segundo o Ministério da Saúde, o trastuzumabe na rede pública de saúde beneficiará mulheres que apresentam o câncer de mama HER-2 positivo — cerca de 20% dos casos —, uma das formas mais agressivas da doença. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Anderson Silvestrini, a incorporação do remédio é um avanço, pois o medicamento é utilizado para diminuir as chances de a doença reincidir após a cirurgia, além de contribuir, juntamente com a quimioterapia, para a redução do tumor. "Entretanto, em casos metastáticos da doença, o medicamento também aumenta a chance de resposta com quimioterapia, bem como a sobrevida dos pacientes, que pode chegar a um ano", pondera.

O oncologista destaca que a medida deixará uma parcela importante das pacientes prejudicada. "No Brasil, cerca de 70% dos casos são diagnosticados em estágio avançado ou metastáticos. No mundo inteiro, o trastuzumabe é utilizado nessas fases."

A pasta ressalta que a decisão da Conitec de não incluir o remédio para o tratamento em casos de metástase é baseada em estudos de eficácia que comprovaram que o trastuzumabe não oferece possibilidade de cura para pacientes nesse estágio e que a sobrevida seria de, aproximadamente, dois meses e meio. Anualmente, a incorporação da substância no SUS custará aos cofres públicos R$ 130 milhões. No início do ano, o Ministério da Saúde publicará as diretrizes para o uso do remédio.

Esperança

O uso do trastuzumabe significou uma sobrevida de mais de um ano para a carioca Margareth Martins, 54 anos. Em 2008, a diretora-administrativa da Associação Brasileira de Apoio aos Pacientes de Câncer (Abrapac) foi diagnosticada com câncer de mama e, atualmente, apresenta a doença em estágio metastático. Ela tomou a substância por dois anos e meio. "Sou privilegiada, pois tenho acesso a um plano de saúde caro e aos melhores médicos. Quando comecei a tomá-lo em 2009, a dose custava R$ 21 mil."

Após 10 cirurgias, a metástase se infiltrou nos pulmões, fígado e cérebro. Margareth avalia, no entanto, que o uso do medicamento foi essencial para garantir sua qualidade de vida. "Não parei de trabalhar. Sem o remédio, já teria morrido. Os estudos recentes garantem que o uso do remédio na metástase dá ganho de vida. Quem disse que dois meses a mais não contam?", questiona a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

De acordo com dados do Inca, a sobrevida estimada para pacientes com câncer de mama está em torno de 80%. O estudo revelou aumento na incidência da doença em Palmas (6,9%), Porto Alegre (3,6%), João Pessoa (3,8%), Aracaju e Goiânia (ambos com 3%). João Pessoa apresentou maior crescimento na mortalidade (7,2%), enquanto observou-se diminuição nas cidades de Jaú (10%), São Paulo (1,6%) e Salvador (3,9%).

Fonte: Correio Braziliense