Crise nos Balcãs favorece Washington
Conheci Zoran Andjelkovic em 1999 quando a aviação da Otan bombardeava cidades e vilas da Sérvia e do Montenegro. Naquela altura, ele era dirigente do vetche (Assembléia Executiva do Kosovo). Depois iniciou-se a operação internacional de paz no Kosovo e Metohija. Desde os meados de 1999, a vida dos sérvios do Kosovo virou um pesadelo.
Por Konstantin Katchalin, na Voz da Rússia
Publicado 13/12/2012 16:45
Foi então que os 330 mil sérvios, montenegrinos e ciganos, perante a eventual carnificina da parte de extremistas albaneses, tiveram que abandonar a sua terra natal.
Em 2000 Zoran Andjelkovic tornou-se secretário-geral do Partido Socialista da Sérvia (PSS), mantendo as relações normais com Zoran Dindic. "Conversamos com ele duas horas antes do seu homicídio e debatemos a questão do Kosovo. Dindic estava ciente de que eu conhecia muito bem vários habitantes locais, que confiavam em mim", disse noutra ocasião Andjelkovic. Em 2003, ele passou a exercer cargo de primeiro vice-presidente do Parlamento sérvio que terá ocupado até 2008. Decidi incluir os fragmentos mais interessantes da nossa palestra com ele no verão de 2011 no meu Diário Balcânico.
Voz da Rússia – Por é que a Sérvia tem defendido o Kosovo e por que motivo esta região é tão importante para a Sérvia?
Zoran Andjelkovic – Para a Sérvia, o Kosovo significa muito mais do que o estado de Texas para os EUA, o País Basco para Espanha ou a Sicilia para a Itália. Para cada sérvio, o Kosovo é uma fonte básica da nossa cultura e da religião. Ali se encontram os mosteiros ortodoxos e os monumentos históricos.
Na cidade de Pesc fica a sede do Patriarcado da Sérvia. E por fim, o mais importante – a maioria dos sérvios tem raízes históricas no Kosovo: todos os sérvios são oriundos desta região. Por isso, o Kosovo é um fulcro econômico, cultural e religioso da Sérvia. E isto não passa de um mero slogan político, é um fato histórico consumado. A nossa música popular e a arte literária estão estreitamente vinculadas ao Kosovo e Metohija. É sob este prisma objetivo que cada Nação defende a sua integridade e a soberania.
Como e por que é que se deu a desintegração da Iugoslávia, país tão grande e poderoso?
Creio que a Iugoslávia se desagregou por causa da Constituição que estipulava o direito de saída da Federação. Por isso, no mapa político do país surgiram novos estados. Segundo a Lei Fundamental, a região autônoma do Kosovo fazia parte da Sérvia. Enquanto a Europa se unia, na Iugoslávia se iniciou um complicado processo secessionista na seqüência do qual deflagrou a guerra intestina e se romperam os laços econômicos. Ao cabo de 20 anos, esforçamo-nos por recuperar o espaço econômico comum. É muito difícil viver em separado num espaço tão pequeno como é o nosso onde há muitos vizinhos que se conhecem e se necessitam um de outro.
Em 1999, os sérvios se opuseram à anexação de uma quarta parte do seu território?
O ano de 1999 passou a ser para nós uma ferida, que dói até hoje. Os sérvios não podem esquecer os horrores causados então pela Otan. O nosso desempenho econômico ficou suspenso em 1999. Durante a agressão da Aliança, que causou consideráveis danos econômicos, muitas pessoas perderam os seus familiares. Em Belgrado ainda não foram reabilitados alguns prédios destruídos por bombardeamentos.
Recorde-se que a Sérvia ocupa uma posição geográfica importante, ligando o Norte e o Sul da Europa. Claro que não se deve pensar sempre no passado. O nosso objetivo é estabelecer a colaboração com a União Europeia. Vamos também intensificar as nossas relações com a Rússia que não deixa de ser o nosso parceiro seguro.
Os EUA devem compreender que, em 1999, cometeram um erro crasso quando agrediram a Sérvia. Depois se envolveram em campanhas militares no Iraque e no Afeganistão. Presentemente, os EUA têm vindo a assumir atitudes mais sensatas. É pena não o terem feito antes, pois que não se pode fazer renascer as vítimas inocentes da guerra.
Fonte: Voz da Rússia