Oposição egípcia participará de referendo constitucional

A oposição laica e liberal do Egito disse nesta quarta-feira (12) que fará campanha pelo "não" no primeiro dia de referendo deste sábado (15) e não mais boicotará a votação, desde que haja salvaguardas para um processo justo. 

Nos dias 15 e 22 de dezembro, os egípcios irão escolher se aprovam ou não o texto da próxima Constituição, aprovado sem a participação das correntes não-islâmicas do país. As informações são da agência de notícias Reuters.

Os políticos integrantes da oposição dizem que o projeto constitucional não reflete as aspirações de todos os 83 milhões de egípcios, já que alguns artigos poderiam dar papel legislativo a clérigos islâmicos. Os oposicionistas querem mais salvaguardas para direitos das minorias, inclusive para os 10% de cristãos no país.

A votação para o referendo já começou em embaixadas no exterior, e o cancelamento do boicote pode contribuir para reduzir os confrontos nas ruas e dar mais legitimidade à Constituição caso ela seja aprovada.

Partidários do presidente Mohamed Mursi, ligado ao grupo Irmandade Muçulmana, dizem que a nova Constituição é um passo importante no processo de democratização iniciado com a revolta popular que derrubou o regime de Hosni Mubarak, no ano passado. Alguns governistas dizem que entre seus oponentes há saudosistas da era Mubarak.

A nova posição da coalizão oposicionista foi definida numa reunião nesta quarta-feira. "Vamos votar ‘não'", disse à o diplomata Amir Mussa, ex-secretário-geral da Liga Árabe. Mas a oposição diz que o boicote será mantido caso o referendo não tiver supervisão plena do Judiciário, garantias de segurança e monitoramento local e internacional. Os adversários do governo também querem que o processo seja concluído em um só dia, e não em dois sábados sucessivos, como foi acordado nesta quarta (12).

Hamdeen Sabahy, da coalizão Frente Popular, de esquerda, disse que "a frente decidiu convocar o povo a participar do referendo e rejeitar essa proposta de Constituição, e votar ‘não’. Se essas garantias não estiverem em vigor até o dia do referendo, no sábado, vamos nos retirar dele".

Por sua vez, o Exército egípcio cancelou um encontro entre as facções políticas cujo objetivo era buscar a "unidade" nacional. Uma fonte militar disse à Reuters que o cancelamento ocorreu por causa do "burburinho midiático" que deu a entender que as Forças Armadas estavam tentando forjar um diálogo nacional, termo politicamente carregado.

"O Exército não pode guiar o processo político, e não será arrastado de volta para a política", disse a fonte.

Pelo menos sete pessoas já morreram em confrontos no país desde o início da atual fase de turbulências, causada por um decreto que ampliou os poderes de Mursi para acelerar a promulgação de uma nova Constituição.

Fonte: Opera Mundi