Cinema com outra maneira de contar: Hoje do Brasil

Hoje, da brasileira Tata Amaral, chega à edição 34 do Festival do Cinema Novo Latino-americano de Havana com a ideia de contar através de um ambiente hermético, às vezes asfixiante, para se submergir nos medos e culpas, a luta pela recuperação da memória terrível da ditadura militar.

A cineasta Tata Amaral

Usando um fio condutor tenebroso, a tortura, dá ênfase a um dos tempos mais escuros na história do Brasil: a ditadura militar de 1964 a 1985. E um monólogo que com a imagem de celulóide, chega ao diálogo.

Seu protagonista é Vera ou Ana María, na pele de uma brilhante Denise Fraga, repleta de fantasmas e lembranças na sua chegada ao novo apartamento na populosa São Paulo. Trata-se de uma indenização do Estado por familiares desaparecidos.

As pistas são poucas ou inexistentes e a trama transita com cuidado e respeito por um tema de alta sensibilidade.

"É importante falar das marcas que essa experiência traumática deixou nas pessoas até hoje. É importante porque o Brasil é um dos poucos países latino-americanos que não identificou nem julgou os torturadores", disse Tata Amaral.

Com uma encenação de corte teatral, o filme remexe no que há de mais complexo nas atitudes de cada momento ao longo da ditadura e suas consequências nas vítimas, tanto de forma física como espiritual.

"Não acho que tenha uma linguagem teatral. Em Hoje, utilizei as projeções para expressar em imagens as emoções de Vera – que ela não pode verbalizar – para expressar sua relação com o passado, argumentou a realizadora", disse.

O filme conquistou os aplausos no Festival de Brasília deste ano, com prêmios nas categorias de melhor produção, direção de arte, fotografia, roteiro e atriz, além do reconhecimento da crítica no evento.

Outros filmes brasileiros que concorrem no Festival de Havana são A febre do Rato (Cláudio Assis), Era uma vez Eu, Verônica (Marcelo Gomes) e A cadeira do Pai (Luciano Moura).

Fonte: Prensa Latina