Entre a suástica e a palmatória

A Revista de História da Biblioteca Nacional lança reportagem em vídeo: “Entre a suástica e a palmatória”, onde conta a história da fazenda que, nos anos 1930 e 1940, sujeitou 50 meninos órfãos a situação análoga à escravidão.

Por Alice Melo

Revista de História da Biblioteca Nacional nº 88

Responsável por alguns dos mais nefastos episódios do século 20, o nazismo disseminou sua influência para além do continente europeu. O Brasil, infelizmente, não ficou de fora de seu alcance. A reportagem “Entre a suástica e a palmatória”, publicada em janeiro de 2013 pela Revista de História da Biblioteca Nacional, e que virou também vídeo homônimo, é um exemplo de como o pensamento político autoritário se manifestou no país.

Nos anos 1930 e 1940, uma fazenda do interior de São Paulo adotou abertamente símbolos nazistas para marcar gados, documentos e até os próprios tijolos. Por sua vez, a propriedade vizinha, da mesma família, colocou em prática teorias racistas e eugênicas: recrutou 50 crianças órfãs, a maioria negras, para trabalhar em suas terras. A história ficou esquecida durante décadas. Em 1990, um fazendeiro descobriu uma dessas peças com a cruz suásticas e a história começou a ser revelada. Posteriormente o pesquisador Sidney Aguilar Filho, em tese de doutorado defendida em 2011 na Unicamp, a estudou mais profundamente.

A reportagem da Revista de História viajou a Campina do Monte Alegre, no estado de São Paulo, e a Foz do Iguaçu, no Paraná, para entrevistar as últimas testemunhas vivas e conhecidas desta história. Aloísio Silva, chamado durante a adolescência de "Vinte e Três", trabalhou no local e aguentou a situação de exploração até a sua “liberação”, como ele próprio diz, em 1945. E Argemiro Santos, que fugiu da fazenda quando tinha apenas 14 anos, enfrentando uma vida difícil nas ruas de São Paulo até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, momento em que decidiu ingressar na Marinha para servir o país.

Apesar de lidarem com o passado de forma diferente, seu Aloísio e seu Argemiro são fontes dos fatos. Seus depoimentos se complementam e a vida posterior ao episódio reforçam ainda mais a ideia já levantada na abertura do dossiê desta edição da Revista de História: “Em vez de pensar que ‘o trabalho liberta’, como os nazistas estampavam em seus campos de concentração, é melhor afirmar que a memória salva”.

Vídeo

Dossiê
 
Nazismo no Brasil

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional