Dramaturgo negro pioneiro será homenageado em S. Paulo

Na quarta-feira (20), os paulistanos terão a oportunidade de conhecer mais sobre a vida e obra do dramaturgo Ubirajara Fidalgo que, segundo levantamento realizado por sua filha, a cineasta Sabrina Fidalgo, foi o primeiro dramaturgo negro brasileiro. A marca de Fidalgo, que também era ator, foi trocar os grandes textos do teatro mundial pelos seus próprios temas. "Ele queria falar e encenar a cultura e a realidade do negro no Brasil”, explica Sabrina.


Primeira montagem de "Tuti" em 1985, no teatro calouste gulbenkian,de Ubirajara Fidalgo / foto: divulgação

Segundo Sabrina, não há registro anteriores de dramaturgos negros que tenham atuado no Brasil com a intensidade de seu pai, escrevendo, dirigindo e montando peças com a temática racial. Ela lembrou do trabalho criado pelo ativista do movimento negro, Abdias Nascimento, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN) que, apesar de valorizar o negro e sua cultura através do teatro, não produziu tantos textos próprios para o teatro com esse foco como Fidalgo. Abdias é autor da peça Sortilégio Mistério Negro, de 1959. "São trabalhos bem diferentes os do TEN e do Tepron (Teatro Profissional do Negro), companhia criada por meu pai", comenta a cineasta.

Fidalgo morreu em 1986 aos 37 anos, vítima de insuficiência renal. Mesmo tendo feito a cirurgia de transplante, acabou não resistindo. Seu último trabalho em vida foi em 1985, a peça "Tuti", no Teatro Calouste Gulbenkian, hoje Centro de Artes Calouste Gulbenkian, no Rio de Janeiro.

Na quarta, o texto “Tuti” será lido no palco do Teatro de Arena pelo dramaturgo e ator baiano Aldri Anunciação, que atualmente está em cartaz com a peça “Namíbia, não!”, com direção de Lázaro Ramos. Após a leitura, haverá um bate-papo e exibição de fotos e vídeos com Sabrina Fidalgo. A homenagem faz parte da programação da  Mostra Nova Dramaturgia da Melanina Acentuada do Teatro Arena, em São Paulo.

Foi no palco do Arena que Fidalgo estreou no teatro com Arena Conta Zumbi (1965), com texto de Gianfrancesco Guarnieri e direção de Augusto Boal.

“Fiquei muito feliz em ser convidada para esse projeto, em poder falar sobre o meu pai, que me inspirou muito. Tenho muito orgulho de ser a atual responsável sobre seu acervo”, declara Sabrina Fidalgo, que atualmente conta com o apoio da Funarte para manter o acervo, no entanto, procura novos apoios para poder digitalizar o vasto material que possui em casa.

“Minha mãe que cuidava do acervo. Ela morreu em 2012 e eu agora estou cuidando do material e da organização criada por minha mãe, Alzira Fidalgo, para cuidar do acervo. São muitas fotos, cartazes e material audiovisual que precisam ser digitalizados. Mesmo morrendo muito cedo, ele produziu muito, escreveu muito”, relata a filha de Fidalgo.

Entre alguns momentos da vida do dramaturgo, nascido no vilarejo de São Pedro, próximo de Caxias, no Maranhão, o público saberá de detalhes sobre os cursos promovidos para jovens negros carentes e que, depois, eram incorporados no Teatro Profissional do Negro (Tepron), a cia criada por Fidalgo.


Cartaz de um dos trabalhos de Fidalgo / divulgação

Serviço:
Homenagem a Ubirajara Fidalgo na Mostra Nova Dramaturgia da melanina Acentuada do Teatro Arena
Bate-papo com a cineasta Sabrina Fidalgo, filha do dramaturgo.
exposição de fotos e exibição de vídeos sobre vida e obra de Ubirajara Fidalgo.
Leitura Dramática do texto “Tuti”- com Aldri Anunciação
Onde: Teatro de Arena Eugênio Kusnet (SP) – Rua Dr. Teodoro Baima, 94 – República – Fone: 11 3256 9463.
Quando: 20 de fevereiro de 2013 – 19h
Entrada Franca (senhas são retiradas com uma hora de antecedência)

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho

(matéria atualizada às 23h em 15/2/13)