Que papel cumprirá Marina com “novo” partido?

O assunto do momento, Marina Silva e seu novo partido, de novo mesmo até agora só duas coisas – o nome “Rede Sustentabilidade” e o fato de ser recebido pela imprensa com muitos elogios e uma cobertura pra lá de simpática. Muito estranho!

Por Marcos Verlaine* 

O “novo” partido não será governo nem oposição, anunciou a Folha de S.Paulo neste domingo (17). Que novidade é essa? O PSD também nasceu assim. E agora é governista. Não que isto seja um problema. Até porque já não é mais possível inventar a roda!

O “novo” partido não foi criado para disputar eleição, mas para “questionar a si próprio”, disse Marina Silva em matéria da Folha. Ora, estranho, mas é sabido que o único propósito dessa movimentação frenética é criar um partido que possa subtrair votos da candidata à reeleição Dilma Rousseff. Esse movimento recebe, inclusive, apoio do senador tucano Aécio Neves (MG) real contendor de Dilma em 2014.

Esse movimento não é novo. A candidatura de Marina em 2010 foi articulada por Serra para fugir da polarização PT-PSDB na disputa eleitoral que tudo indicava poderia ter sido encerrada no primeiro turno, com vitória de Dilma. O fator Marina, com votos angariados no antilulismo e no antipetismo foram os elementos que levaram a eleição para o segundo turno.

Em 2006, içaram a candidatura da ex-senadora e atual vereadora do PSol de Maceió Heloisa Helena, pois tirava votos de Lula. A propósito, Heloisa Helena engrossa o movimento de Marina. Será uma de suas estrelas.

O que há de novo numa articulação que galvaniza, com ares de novidade e modernidade, os setores mais reacionários e conservadores da política nacional?

Talvez a possibilidade de derrotar ou no mínimo enfraquecer o projeto em curso, vitorioso em 2002. Por isso, é tão bem vinda pela mídia dominante, que fala do projeto Marina, os “marineros” ou “sonháticos”, sem a acidez com que tratam a política, os partidos e tudo que os circunda, num processo de desconstrução despolitizada da política.

Marina, assim, é a queridinha da vez, pois ela com esse projeto aparentemente ingênuo e cheia de boas intenções se apresenta, ao fim e ao cabo, como uma possibilidade real de enfraquecer o projeto político do PT.

Agora, como em 2010, inflam a ex-senadora acriana porque, na realidade, sua provável candidatura presidenciável em 2014 não será diferente da anterior. Ela poderá mobilizar setores que os tucanos terão dificuldades de animar na contenda eleitoral.

É bom lembrar que a ex-senadora em 2010 tinha como principais aliados nos quatro maiores colégios eleitorais depois de São Paulo – Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia – o PSDB e o DEM. Por esta razão Marina fez uma campanha conservadora, rançosa e cheia de preconceitos, solapando suas origens políticas.

Os reais apoiadores desse projeto, diferentes daqueles que o abraçaram pensando que estão fazendo algo novo, sabem que Marina não tem a menor chance de derrotar Dilma numa disputa direta. O objetivo mesmo é criar as condições de levar a eleição presidenciável para o segundo turno.

Onde Marina buscará apoio financeiro e logístico para bancar o projeto 2014?

Com certeza serão os mesmo que financiam todos os demais. Então, que novidade é essa?

Assim, Marina será linha auxiliar da direita e do conservadorismo. O resto será teatralidade para justificar toda movimentação que antecederá as eleições. Aguardemos, pois.

*Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap