Encontro de Dilma com o russo Medvedev prenuncia acordos

Brasil deve fechar convênios com Rússia para equipar Forças Armadas com baterias antiaéreas, além da produção de mísseis. Embraer deve firmar acordos na área de defesa. Banco de fomento para o Brics poderá ser lançado.

A presidenta Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer recebem a partir desta quarta-feira (20) em Brasília a visita do primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev. Em dois dias, os encontros devem gerar acordos principalmente nas áreas de defesa, tecnologia e agricultura.

Medvedev vai participar da 6ª reunião da Comissão de Alto Nível de Cooperação Rússia-Brasil – copresidida por Temer e Medvedev. Na lista de discussões está, ainda, a criação de um banco de desenvolvimento para fomentar empresas dos países que compõem o Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

"A visita de Medvedev tem um grande significado. Apesar de o comércio entre os dois países ter aumentado muito, temos pontos a serem resolvidos, como por exemplo, o embargo da carne pelos russos e a compra dos aviões caça Sukhoi para a Aeronáutica", frisou Paulo Carvalho, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB).

Para equipar suas Forças Armadas, o Brasil deve comprar dos russos três baterias antiaéreas de alta tecnologia Pantsir S1– que lança mísseis terra-ar com alcance de 20km e 15km de altitude – e realizar, ainda, um acordo joint venture entre Embraer, Avibrás e Odebrecht Defesa e Tecnologia para produzir mísseis Igla-S, que podem ser disparados a partir do ombro de um soldado. Em todos os casos, os russos teriam disposição de transferir tecnologia para o Brasil. O valor da operação ainda não foi definido.

Há a possibilidade de a Embraer fechar um acordo para construir um avião civil de médio porte da sua congênere russa.

Carvalho acredita que o caça russo Sukhoi ainda tenha grandes chances de ser o escolhido para equipar a Aeronáutica do Brasil, e que o assunto continuará a ser discutido em Brasília. Os aviões russos disputam a preferência brasileira com o francês Rafale, o sueco Gripen NG e o norte-americano F18 Super Hornet – este último, produzido pela Boeing. "O nível de transferência tecnológica oferecida pelos russos ao Brasil é grande", frisou.

Banco do Brics

A presidenta do Brasil deverá discutir com Medvedev a criação de um banco de desenvolvimento do grupo Brics, que atuaria na liberação de linhas de financiamento para empresas do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Essa instituição, nos moldes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), poderá ser oficializada na próxima reunião do Brics, em março deste ano, na África do Sul.

Gilberto Ramos, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Rússia, acredita que será estabelecida uma cooperação entre os dois bancos nacionais de desenvolvimento para a criação de linhas de crédito voltadas a projetos que envolvam transferência de tecnologia da Rússia para o Brasil nas áreas de energia, fármacos e desenvolvimento de novos materiais. O Brasil poderá fechar parceria, ainda, com universidades russas para receber estudantes brasileiros pelo programa de intercâmbio Ciências Sem Fronteiras.

Outra possibilidade discutida por brasileiros e russos é o uso do real e do rublo no intercâmbio comercial entre os dois países. A Rússia já possui acordo semelhante com a China e a Índia; o Brasil, por sua vez, com a Argentina.

O tema agricultura também dominará parte das reuniões entre as delegações e líderes políticos. O Brasil deseja ampliar a venda de carne e soja para a Rússia, enquanto esta ainda analisa se retira o embargo às exportações de carne de três estados brasileiros – Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que já dura mais de um ano e meio.


Brasil espera que russos retirem embargo à carne nacional

Na visita de Dilma a Moscou, em dezembro do ano passado, quando se reuniu com Medvedev e o presidente russo, Vladmir Putin, existia a expectativa de que o governo russo fosse finalmente suspender a restrição à carne brasileira – o que acabou não acontecendo e, de certa forma, frustrando parte da delegação de técnicos, empresários e políticos brasileiros enviados à Rússia.

Mesmo com o embargo, a Rússia continua sendo o maior destino das exportações de carne suína e bovina do Brasil. "Os comitês veterinários e fitossanitários dos dois países estão reunidos desde segunda-feira. Temos expectativa que haja evolução quanto ao tema", frisou Gilberto Ramos.

De Brasília, o primeiro-ministro russo segue para a capital cubana, Havana, onde vai se encontrar com o presidente Raúl Castro. O objetivo da visita à ilha caribenha é aumentar o intercâmbio comercial entre os dois países.

Já a presidenta Dilma embarca para a África, onde participará da Cúpula África-América do Sul, na Guiné Equatorial.

Com informações da WD (Deutsche Welle)