Brasil vai comprar sistemas russos de defesa antiaérea

O governo brasileiro assinou na última quarta-feira (20) um acordo em Brasília no encontro entre a presidenta Dilma Rousseff e o primeiro ministro Dmitri Medvedev. Segundo informações disponíveis nesta quinta-feira, ficou descrito no acordo que o Brasil usará componentes nacionais, mas incluirá transferência de tecnologia.

Sistema russo de defesa antiaérea

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O governo brasileiro vai comprar cinco baterias antiaéreas da Rússia – três do modelo Pantsir S1, de médio alcance, e duas Igla-S, com raio de ação curto. 

    
O Pantsir em ação                             Soldados treinam com o Igla S

O valor envolvido é estimado, na Europa, em US$ 1 bilhão. Cada bateria do sistema Pantsir, é composta por seis carretas lançadoras, mais veículos de apoio: carro de comando e controle, radar secundário, recarregadores e unidade meteorológica. O radar de detecção localiza o alvo – a rigor, podem ser até 10 por minuto – em uma área de 36,5 quilômetros e pode reagir contra ele em 20 segundos.

O preço final depende dos componentes que serão escolhidos. A cotação sairá entre maio e junho. Todavia, alguns avanços já ocorreram na reunião expandida da tarde de ontem (20). No Ministério da Fazenda, com a participação direta do ministro Guido Mantega, foi estabelecido que o pagamento inicial, da ordem de 40% sobre o total apurado, vai sofrer significativa diminuição.

A negociação pode levar a um desconto de 30% na cotação final. Certos componentes do Pantsir devem ser substituídos por equivalentes produzidos no Brasil. As carretas blindadas, por exemplo, seriam trocadas pelo eficiente 6×6 da Avibrás, de São José dos Campos (SP), usadas no conjunto Astros-2, de foguetes livres. O radar de campo também pode ser trocado pelo Saber M200, de 200 km de raio de ação. Produzido pela OrbSat, subsidiária da Embraer Defesa e Segurança, rastreia até 40 objetivos simultaneamente, priorizando a reação pelo grau de ameaça.

O Ministério da Defesa está negociando três baterias e os suprimentos. Cada disparador é carregado com 12 mísseis 57E6 e leva, ainda, dois canhões de 30mm de tiro rápido, além de acessórios digitais que permitem localizar e abater alvos no limite entre 15 km e 20 km, a 15 mil metros de altitude. Segundo o general José Carlos de Nardi, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, “agora começa a discussão que resultará na redução do preço de aquisição”. A análise do contrato deve demorar cerca de três meses a quatro meses. As primeiras entregas, 18 meses após a assinatura definitiva. “Esperamos contar com os sistemas para os Jogos Olímpicos de 2016”, acredita o general De Nardi.

O acerto da segunda parte dessa transação é mais simples. Envolve duas baterias do míssil Igla, versão S/9K38, a mais recente da arma antiaérea leve disparada do ombro de um soldado. As Forças Armadas do Brasil utilizam modelos de gerações anteriores. A versão atual tem alcance de 6 km, é mais pesado que as séries anteriores, usa sensor de localização de alvos de eficiência expandida e é mais resistente à interferência eletrônica de despistamento.

O Brasil tem realizado compras de porte na área de Defesa, sempre exigindo como contrapartida a transferência de tecnologia. Na viagem de Dilma a Moscou, foi acertada a compra de 14 helicópteros russos para a Petrobras. O país já havia comprado helicópteros e submarinos da França.

Transferência de tecnologia

Há informações de que o interesse brasileiro é dominar a tecnologia envolvida no sistema de detecção e ataque antiaéreo negociado. Os russos, em reunião com o general José Carlos de Nardi, garantiram estar dispostos a permitir a transferência de tecnologia “sem caixa-preta”, embora toda a operação estará coberta por cláusulas rígidas de transferência de tecnologia. O acordo assinado prevê que haverá “transferência efetiva de tecnologia, sem restrições”.

Está prevista a formação de uma joint venture para fabricar o Igla-S no Brasil, que caberia a uma espécie de consórcio formado pelas principais empresas do setor, como a Odebrecht Defesa e Tecnologia, Embraer Defesa e Segurança, Avibrás, Mectron e Logitech.

Com informações de O Estado de S.Paulo e Valor Econômico