Sensação de posse motiva crimes, diz Olgamir

Secretaria da Mulher do DF atua no enfrentamento dos casos e busca promover autonomia e emancipação femininas. A secretária Olgamir Amâncio realizará uma série de atividades de promoção e conscientização mulher sobre seus direitos durante o mês de março, quando ocorre, dia 8, o Dia Internacional da Mulher.

Sensação de posse motiva crimes, diz Olgamir

A compreensão da mulher como objeto e o sentimento de propriedade sobre ela são os fatores que motivam a violência contra a mulher principalmente por parte dos companheiros, justamente aos quais cabia o papel de incentivá-las ao crescimento e protegê-las. Há pouco mais de uma semana, em Sobradinho, um homem matou sua ex-mulher e em seguida cometeu suicídio por não se conformar com o fim da união de mais de 10 anos. O casal deixou dois filhos, uma menina de 11 anos e um menino de 4 anos.

Na mesma semana, uma mulher foi morta por um adolescente na frente da própria residência, no Recanto das Emas. Dias depois, o mandante do crime confessou ter pago pela execução da ex-namorada. Mais um crime passional.

No último mês de janeiro, também no Recanto das Emas, uma garota de 14 anos morreu após ser esfaqueada pelo próprio namorado em consequência de desentendimentos por causa do fim do namoro.
O caso mais recente de violência contra a mulher teve repercussão mundial. O velocista paraolímpico sul-africano, Oscar Pistorius, está sendo acusado de ter matado sua namorada, a modelo Reeva Steenkamp, a tiros em sua casa em Pretória, na África do Sul. O fato aconteceu na madrugada da quinta-feira (14) e a defesa do atleta alega que ele a confundiu com um intruso, mas os vizinhos declararam ter ouvido discussão do casal momentos antes dos disparos fatais.

“O olhar que nós temos sobre todos esses crimes é que essa relação de poder do homem sobre a mulher, ou seja a compreensão da mulher como propriedade. Portanto cada vez que ele se sente incomodado, constrangido, ameaçado, ele lança mão, inclusive, da vida dessas mulheres como se fosse um bem, uma propriedade deles que eles pudessem dispor como bem aprouver. Então o que está por trás da violência contra a mulher é exatamente essa relação de poder do masculino sobre o feminino e o olhar de posse”, analisa a secretária de Estado da Mulher, Olgamir Amância.

Ela destaca o esforço que sua pasta tem envidado em combater essa violência no Distrito Federal com atuação em dimensões: uma de enfrentamento dos casos já ocorridos ou em andamento com políticas de combate por meio dos equipamentos públicos de atendimento à mulher; a outra dimensão consiste na implementação de um conjunto de políticas para o empoderamento da mulher de forma a garantir que ela possa ter mais autonomia e, assim, enfrentar a questão da violência em outro patamar.

Para o enfrentamento da violência contra a mulher, o DF conta com dois Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), um localizado na antiga Rodoferroviária e o outro na estação do metrô da 102 Sul. Nesse centros, as mulheres têm acesso a orientações jurídicas, de assistência social e psicológicas. “A mulher fica muito fragilizada quando é vítima de violência, principalmente porque essa violência de que estamos falando é aquela praticada por alguém da sua relação afetiva”, observa a secretária.

Ainda na linha de combate, o DF possui dez Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de Violência Doméstica (NAFAVDs), uma Casa Abrigo, além da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), os Juizados Especiais Criminais de Varas de Violências Doméstica do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT).
“Nós procuramos dar visibilidade a esses equipamentos como uma forma de dizer para a mulher – Olha você pode denunciar que o Estado tem como acolher, como dar condições de enfrentar esse problema”, explica Olgamir, acrescentando que tem sido feito um trabalho de formação com profissionais da área de segurança em geral a fim de proporcionar atendimento digno às mulheres que buscam apoio. “Fizemos, inclusive cursos, encontros e temos agora em março várias atividades com a Academia de Polícia para a sensibilização e orientação dos profissionais de segurança com intuito de que a mulher sinta-se confortável para chegar a uma delegacia qualquer, não só a DEAM, e possa fazer a denúncia”, acrescenta.

MARÇO MULHER
Palestras e lançamentos
A Secretaria da Mulher vai dedicar o mês inteiro de março às mulheres com uma programação que inicia no dia 5 de março com palestra sobre Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres, com apresentação de vídeo, a partir das 14h30, no Centro de Referência de Atendimento à Mulher da estação do metrô 102 Sul. No mesmo dia, a partir das 14 horas, também haverá distribuição de cartilhas sobre a Lei Maria da Penha, orientação psicológica, jurídica e social no restaurante da Universidade de Brasília (UnB).
No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, as secretarias da Mulher e da Saúde, com o apoio do BRB e da Emater, vão lançar o projeto “Caravana da Mulher”, sob o slogan: “É o GDF trabalhando pelas mulheres e fazendo a vida de todas e todos melhor”. A proposta da iniciativa é levar às mulheres, em um só dia – não necessariamente em datas comemorativas – diversos serviços que atendam às suas necessidades. O projeto estará no PAD-DF, das 9h às 17h, e na ocasião será lançada a linha de crédito Pronaf Mulher para incentivar o empreendedorismo das agricultoras familiares. Neste dia, a Secretaria da Mulher montará uma versão itinerante do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), oferecendo atendimento psicológico, social, jurídico, orientação e assistência em geral. No local, também haverá a distribuição de cartilhas da Lei Maria da Penha. A população contará ainda com os serviços da Unidade de Saúde Móvel da Mulher, oficinas de agricultura da Emater e brinquedos infláveis para as crianças.
Toda a programação do Março Mulher pode ser acompanhada pelo site da Secretaria da Mulher: www.mulher.df.gov.br.
REDE INTEGRADA
Ações conjuntas fortalecem resultados

Olgamir lembra que muitas mulheres sofrem violência pela dependência financeira
A Secretaria da Mulher ressalta que só a ação de enfrentamento da segurança não é suficiente, por isso está sendo trabalhado um conjunto de outras políticas para a promoção da autonomia e emancipação da mulher, a exemplo do programa Rede Mulher que atua em cinco áreas: saúde, cidadania, trabalho, artesanato e rural.

A secretária Olgamir Amância destaca que muitas mulheres não rompem com o ciclo da violência porque não possuem autonomia financeira, ou seja, são dependentes econômicas de seus companheiros. Para mudar essa condição elas precisam de suporte.

Como reforço na educação, no final do ano passado, o Conselho de Educação do DF aprovou uma resolução em que obriga as escolas particulares e públicas do Distrito Federal a discutirem em salas de aula o direito das mulheres. A determinação vale já para este ano de 2013. “A questão da educação é na perspectiva de desconstruir a cultura machista”, observa Olgamir.

As ações de assistência à Saúde, como a Carreta da Mulher, promovem o fortalecimento da mulher à medida que ela passa a conhecer melhor seu corpo e se precaver de doenças. “Primeiro é o atendimento psicológico para fortalecê-la, elevar sua autoestima que certamente está muito rebaixada. Associado a isso, nós trabalhamos com atividades que chamamos de terapias ocupacionais, sempre buscando inserir as mulheres nos programas de qualificação profissional do governo”, acrescenta.

O QualifiCopa e o Mais Autonomia são programas, no âmbito da Secretaria de Trabalho, que formam para o mercado de trabalho e possibilitam que as participantes, depois de formadas, possam ser inseridas profissionalmente.