Esclarecer o Passado é entender o Presente e disputar o Futuro

 *Por Sérgio Danilo Miranda Rocha

De que falamos quando nos referirmos à palavra de ordem – TODO APOIO AO FUNCIONAMENTO DA COMISSÃO DA VERDADE E JUSTIÇA? Bem, o lado óbvio e mais na superfície, é apurar como se deram as mortes e “desaparecimentos” de todos os lutadores contra a ditadura militar no Brasil de 1964 a 1985. Centenas de mortos, milhares de torturados, punidos e submetidos a todo tipo de arbítrios, é preciso esclarecer, ou seja, colocar a luz pública, e o Estado reconhecer os atos e responsabilidades dos seus agentes, na ação criminosa contra patriotas e revolucionários, uma parcela do melhor da geração dos anos 60 e 70. Mais além do o obvio é preciso se deter no que esta no profundo da questão. Os trabalhos e ação da Comissão tem de ser apoiados e impelidos a ir mais fundo no sistema de repressão e coação da ditadura, seus instrumentos, financiadores e apoiadores.

É de suma importância identificar carrascos e algozes que sobre o manto da ditadura cometeram crimes imprescritíveis, mas o fundamental é expor aos olhos do tempo presente o maquinário, as entranhas do sistema de repressão, o funcionamento dos que sustentaram e financiaram o aparato repressivo: associações empresariais, igrejas, embaixadas estrangeiras – com destaque para a ação da embaixada (do seu corpo diplomático e agentes) dos EUA – além do sistema de “arapogagem” (grampos, escutas, dossiês, etc.) e do sistema de “deduragem”.

Memória não só é passado, mas se trata das origens do presente das balizas com que construiremos um futuro em outro rumo. O povo brasileiro enfrentou e derrotou política e juridicamente no grande ciclo de lutas de 1978 à 1988 um condomínio que reuniu os setores mais reacionários das classes dominantes, setores entreguistas das forças armadas alimentadas e orientadas pelo ação do imperialismo protagonizado pelo EUA, removendo o “entulho autoritário” da ditadura; foram as décadas perdidas para o nosso povo no sentido de construir um rumo de desenvolvimento estruturado e interno, com soberania e com protagonismo das amplas camadas do povo.

A Comissão da Verdade é ferramenta para expor o funcionamento de uma lógica e estruturas que no campo ideológico e de métodos infectam a ação do aparelho de Estado. Nos 25 anos que se comemoram a promulgação da constituição de 88, vemos em cada trato policial principalmente com a juventude, no funcionar da ação da polícia nas periferias de qualquer grande cidade, dos “esquemas” de grampos e confecção de dossiês para atacar este ou aquele protagonista da vida política, a herança maldita do que “resta da ditadura”entre nós. Expor os mecanismos deste funcionamento é um passo para confrontar tão longeva e nefasta tradição. Esclarecer o passado é entender o presente sem viseiras é delimitar o parâmetros com qual queremos definir e construir o futuro.

*Sérgio Danilo é Hitoriador pela UFMG, Secretário Geral da Fundação Mauricio Grabois – Seção Minas Gerais e Secretário de Juventude do Comitê Estadual do PCdoB