A nova Frente Parlamentar e a garantia da voz das minorias

Nós, parlamentares dedicados à luta por uma sociedade mais justa e igualitária, lançamos esta semana a Frente em Defesa dos Direitos Humanos, com o objetivo de resgatar a credibilidade e confiança da população nesta Casa e a sua característica de representante do Povo. Continuaremos com esse propósito. Ainda há esperanças para a nossa luta.

Por Jean Wyllys*

Infelizmente, apesar de várias manifestações pelo país ao longo dessas últimas duas semanas, além de protestos e notas de repúdio da sociedade civil; movimentos sociais; do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil; do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves e, inclusive, do líder de seu partido, André Moura; de pastores e líderes evangélicos, o deputado Marco Feliciano insiste em atrasar a resolução do impasse que impede o funcionamento da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, por não renunciar à sua presidência.

Não desanimem, lembrem-se que estamos junt@s nela e que não vamos deixar essa chama se apagar. Como dizia Raul Seixas: “Não diga que a vitória está perdida, pois é de batalhas que se vive a vida. Tente outra vez”.

Leia abaixo o meu breve discurso, proferido no lançamento da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos que realizamos na quarta feira, dia 20:

“Eu sou um crente, acredito nos mistérios. Os mistérios são aquilo que nossa razão e nossa ciência ainda não explicam, e a gente pode dar vários nomes aos mistérios – podemos chamá-los de Deus, destino, providências, universo, orixás.

Justamente por acreditar nos mistérios é que sempre me interessei por filosofia e história das religiões. Da história do zoroastrismo e da religião do povo iorubá até a história do espiritismo kardecista, passando pela história do judaísmo e do cristianismo.

“Mistérios sempre há de pintar por aí”, diz Gilberto Gil. Foi recorrendo a esse mistério que eu disse numa entrevista que só os mistérios poderiam explicar a minha eleição. Eu disse: “Deus, o universo, o destino, os orixás me deram esse mandato”. Mas apenas a última parte da frase foi usada num vídeo criminoso que não só quis me difamar, mas demonizar as religiões de matriz africana. Essa campanha difamatória teve algum sucesso porque o ódio aos homossexuais é algo concreto e porque, neste país, muita gente ainda não admite ver um homossexual fora do lugar subalterno, num espaço de poder. O mesmo se passa em relação às mulheres, aos negros e as pessoas indígenas.

É por conta desse ódio que se materializa em insultos, injúrias e assassinatos que os direitos humanos não podem excluir as minorias. Por isso mesmo construímos essa Frente: para garantir a voz das minorias estigmatizadas e colaborar em defesa de seus direitos.

Foram também os mistérios – Deus, o destino, a providência, o universo, os orixás – que nos levaram a construir essa Frente. Porque, ao contrário dos exploradores comerciais da boa fé das pessoas, ao contrário deles, não me amarro em dinheiro não, mas a cultura. Não me amarro em dinheiro não, mas direitos humanos. Não me amarro em dinheiro não, mas os mistérios”.

*É deputado federal pelo Psol do Rio de Janeiro e um dos coordenadores da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos