Rússia reafirma soberania de sua política externa

Um artigo publicado pelo Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, na revista International Affairs, órgão da pasta, repercutiu nos meios de comunicação do país euro-asiático e foi reproduzido pelo Diário da Rússia, publicação digital em língua portuguesa editada no Brasil, com base no notíciário da Voz da Rússia, a emissora de rádio estatal russa.

Leia abaixo a íntegra do artigo assinada por Lavrov:

“O Presidente Vladimir Putin ratificou no dia 12 de fevereiro a nova concepção da política externa da Federação Russa. O projeto da nova política externa russa foi discutido com vários órgãos internos que lidam com assuntos de repercussão internacional e revisado pelos vários departamentos que constituem o núcleo da administração presidencial. A elaboração final deste documento teve a participação da comunidade de especialistas russos em política exterior, comunidade esta que conta com membros do Conselho Científico do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

Como resultado destes debates, os especialistas determinaram que o rumo da política externa atual do nosso país tem um caráter essencialmente independente sem dar oportunidade à qualquer outra alternativa. Isto, dito em outras palavras, significa que a Rússia não pode ter qualquer dúvida de que sempre seguirá seu caminho autônomo, jamais cogitando a hipótese de acompanhar os passos de algum outro ator chave no âmbito internacional.

A independência da política externa russa é determinada por suas dimensões geográficas e por uma situação geopolítica única, assim como por contar com tradições, cultura e uma consciência popular com vários séculos de antiguidade. Esta trajetória é também o resultado do desenvolvimento experimentado pelo país sob as novas condições históricas dos últimos vinte anos, um período no qual se pôde formular uma filosofia de política exterior que atenda, ao máximo, aos interesses atuais da Rússia.

O principal objetivo da atividade internacional da Rússia consiste em criar condições externas favoráveis para a recuperação econômica russa, para encaminhar a economia pela trilha da inovação tecnológica e para o aumento do nível de vida de todas as pessoas.

Obviamente, o país somente logrará um aumento progressivo do seu potencial se estiverem asseguradas as condições de estabilidade internacional. Portanto, para a Rússia, garantir a paz e a segurança mundiais é, por um lado, a obrigação ligada ao seu papel protagonista no cenário internacional e ao fato de pertencer ao Conselho de Segurança da ONU e, por outro, uma questão chave para o atendimento aos seus próprios interesses.

A este respeito, ouvem-se críticas que qualificam a política externa russa como conservadora por demonstrar uma posição notoriamente contrária às pretensões da manutenção de um determinado status quo mundial que sofre mudanças inevitáveis. Estas críticas, porém, estão muito longe de expressar o correto teor da verdadeira doutrina política internacional russa.

Partimos do princípio de que o mundo se encontra em um momento de mudanças, vivendo uma época de profundas transformações cujo resultado é muito difícil de prever. Numa situação como esta, as opções diante de nós são muito claras: ou se intensificam as tensões entre culturas e civilizações até que elas cheguem a um conflito aberto ou buscamos aprofundar um diálogo equitativo apoiado no respeito mútuo com o objetivo de promover a colaboração entre as civilizações.

Estamos convencidos de que a forma mais segura de evitar que o quadro global derive para uma confrontação militar consiste em trabalhar sem descanso para assegurar um esforço coletivo das nações dominantes, representativo das relações geográficas entre as diversas culturas.

Pela sua atuação, a diplomacia russa se propõe exercer uma influência positiva sobre os processos mundiais, com o objetivo de alcançar um sistema multipolar de relações internacionais estáveis que, na melhor das hipóteses, seja capaz de se autorregulamentar e permita que a Rússia ocupe um posto chave neste papel de assegurador da paz mundial. Estamos preparados para desempenhar este papel sensato, contando com a participação de todos os governos interessados.

Também devemos frisar que a Rússia exclui qualquer pretensão de que algum governo possa reivindicar para si a adjudicação do monopólio da verdade. A Rússia é firmemente partidária do método da diplomacia em rede, que implica na criação de alianças flexíveis e entrecruzadas entre os países, em função dos seus interesses comuns. Um exemplo do êxito de políticas deste tipo está no próprio Grupo BRICS, no qual seus países constituintes, situados em diferentes continentes, empenham-se pela consecução de objetivos comuns.

A Rússia que, entre os anos de 2013 e 2015, presidirá as reuniões do G20, G8, Organização de Cooperação de Shangai (OCS) e as do Grupo BRICS, está se empenhando a fundo para aumentar o papel favorecedor deste formato multilateral através do fortalecimento da administração mundial. Estes esforços são uma manifestação prática do caráter multivectorial que está sendo adotado pela política exterior russa.

De acordo com a sua tradição, a Rússia seguirá atuando nos assuntos internacionais como um fator de equilíbrio diante dos nossos parceiros. Isto se explica pelo peso internacional do nosso país e também por dispor de opinião própria, apoiada nos princípios do Direito e da Justiça em torno dos acontecimentos que ocorrem nos dias de hoje.

A crescente atratividade internacional da Rússia se deve à ampliação do seu potencial como país, propiciada pela combinação de um valioso patrimônio cultural e espiritual com as possibilidades únicas de um desenvolvimento dinâmico, o qual desemboca em uma interação muito produtiva entre todos os agentes envolvidos no mundo russo.

Em Moscou, estamos convencidos de que os principais atores do cenário internacional coincidem na avaliação dos problemas mundiais mais prementes da atualidade, sobretudo, no que diz respeito aos objetivos finais e ao enfoque tático de tais objetivos.

Não cabe dúvida de que todos estão interessados em reduzir o número de zonas de conflito interno e internacional, em solucionar os problemas relacionados com a proliferação de armas de destruição em massa assim como em limitar a expansão de grupos terroristas e extremistas.

Consequentemente, falamos de superar o egoísmo individual e coletivo com atitudes práticas e não só com palavras, bem como de tomar consciência da responsabilidade que compartilhamos no futuro de toda a civilização.

Fonte: Diário da Rússia