Para ex-combatente argentino, Thatcher é um "personagem nefasto"

A morte de Margaret Thatcher, nesta segunda-feira (8), rapidamente causou repercussão na imprensa argentina e entre ex-militares que participaram do conflito contra o Reino Unido pelas Ilhas Malvinas em 1982. Semana passada, a guerra, vencida pelos europeus, então comandados pela ex-primeira-ministra, completou 31 anos.

Rádios, TVs, jornais e ex-combatentes também lembram o papel de Thatcher na implementação de políticas neoliberais no ocidente nas últimas décadas.

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Ex-soldado, convocado para a guerra aos 20 anos, o engenheiro Luis Aparicio, de 51 anos, comparou a Dama de Ferro aos militares que impulsionaram o conflito.

"Ela passará para a história como um personagem nefasto. É uma pessoa detestável e faz parte da mesma classe de políticos que o (Leopoldo) Galtieri (presidente e ditador argentino que impulsionou a retomada das ilhas). Eles representavam as mesmas coisas", afirmou.

Para o ex-combatente, a guerra das Malvinas foi usada pelos dois governos de maneira deplorável. "Os militares usaram as Malvinas para se perpetuar no poder e ela, para implementar os planos neoliberais. Ambos se apoiaram no nacionalismo. Nós padecemos aqui e os ingleses lá. Sua morte não me deixa nem mais feliz nem mais triste. Não me causa nada", disse.

O jornalista Victor Hugo Morales, do Canal 9 e da Rádio Continental, também foi contundente ao falar da ex-primeira-ministra britânica e lembrou o episódio mais emblemático da guerra das Malvinas, o afundamento da embarcação General Belgrano, que matou 323 soldados argentinos, cerca de metade do total de baixas do país na guerra.

"Não vamos nos permitir chorar uma lágrima por essa mulher. O Belgrano era um barco desprotegido e que não representava qualquer tipo de perigo para as Malvinas naquela guerra. Além disso, os danos que ela provocou com a propagação das ideias econômicas nos últimos 30 anos da humanidade não podem ser medidos em palavras", afirmou.

A vitória, dois meses após o início da guerra, trouxe ganhos políticos para Thatcher, que conseguiu ser reeleita no ano seguinte. Para a ditadura militar argentina, o episódio significou a efetiva queda do regime, que já vinha em declínio antes da empreitada e que usou a tentativa de recuperar as ilhas como bandeira nacionalista para recuperar o apoio popular.

Thatcher sempre defendeu o ataque ao General Belgrano. Meios argentinos como o jornal La Nación recuperaram com destaque uma entrevista em que Dama de Ferro se irrita ao ser confrontada pela jornalista Diana Gould, em 1982, sobre a decisão de atacar a embarcação.

A ex-primeira-ministra afirmou que, embora estivesse fora da área de exclusão marítima, o navio estava próximo às ilhas, "representando um perigo para nossos barcos e nossos cidadãos. E nós devíamos estar protegidos nessa área. Já havíamos advertido. Estávamos vulneráveis. Atacamos o Belgrano porque era perigoso para nossos barcos e nossa Marinha."

O colunista Alberto Amato escreveu no jornal Clarín que o apelido Dama de Ferro não era atribuído apenas pela dureza política de Thatcher. No artigo, intitulado "A dama da revolução involutiva", Amato lembrou que a ex-primeira-ministra não se incomodava com a alcunha, derivada de um instrumento de tortura difundido na Idade Média.

O método consistia em aprisionar uma pessoa em uma espécie de sarcófago, que tinha como particularidade a estampa do rosto da Virgem Maria (por isso o nome). No interior, cravos de ferro perfuravam a pele da vítima quando o compartimento era fechado. Mas como não atingiam nenhum órgão vital, a pessoa morria aos poucos, por insuficiência sanguínea.

Fonte: UOL