Exposição de moedas retrata três séculos da história do Brasil

D. Pedro I era um homem vaidoso. Na cerimônia de coroação como imperador do Brasil, em 1.º de dezembro de 1822, ele não gostou da forma como fora retratado na moeda de ouro que cunharam para a ocasião. Mais parecia um imperador romano, com aquela coroa de louros e o peito desnudo – faltavam o uniforme de almirante e as insígnias. Mandou retirar de circulação todas as 64 confeccionadas.

Hoje, 190 anos depois, sabe-se o paradeiro de 16 raríssimos exemplares. Um deles está em exibição na mostra O BESNumismática e o Brasil, em cartaz até 20 de junho no Museu Histórico Nacional, no centro do Rio de Janeiro – a mostra deverá passar por São Paulo, mas não tem data definida ainda.

A chamada "Peça da Coroação" é o item mais importante dentre os 150 reunidos na exposição que integra a programação do Ano de Portugal no Brasil. São moedas e barras de ouro que circularam no País desde a época do Brasil Colônia até o Império. "Dentro desses três séculos de história, que vai de d. João IV a d. Pedro II, foram escolhidas as peças mais significativas, emblemáticas e valiosas que representam o período", disse a diretora-geral da mostra, Vanessa Salgado.

Todos os itens reunidos na mostra fazem parte de um rico acervo do Banco Espírito Santo. A coleção de numismática da instituição portuguesa inclui quase 14 mil exemplares de moedas, medalhas e barras de ouro que recontam 2 mil anos da história do território português, desde o período da Antiguidade – e de suas colônias na África, Ásia e América. Somente do Brasil, são cerca de 2 mil peças.

Do século 17, foram escolhidos seis florins, representantes da época em que a colônia esteve sob o domínio holandês. As peças de ouro, quadradas, foram cunhadas em 1645 e 1646 no Recife, por representantes do governo holandês e da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais, e serviam para o pagamento de soldados e fornecedores. Foi a primeira vez que o termo "Brasil" apareceu em uma moeda.

Do século seguinte, há peças cunhadas nas quatro casas da moeda criadas pela Coroa portuguesa em território brasileiro (Bahia, Rio, Pernambuco e Minas). Entre elas, destaque para as do reinado de d. João V (1706-1750), consideradas algumas das mais belas do mundo, e de d. Maria I (1786-1799), que após a morte do marido, d. Pedro III, passou a ser retratada nas moedas com o seu "véu de viúva". As peças entre 1777 e 1786, ano da morte de d. Pedro III, guardam uma particularidade: nesse único período, são cunhados tanto o busto do rei quanto o da rainha.

Menino. Inusitada também é a figura do menino estampada na moeda de 1832. É de d. Pedro II, ainda infante, recém-empossado no trono que ocupou durante 58 anos, até a proclamação da República, em 1889. A mostra traz também exemplares únicos, como uma barra de ouro feita em uma casa de fundição em Goiás, em 1790, e uma peça de 1729 feita na casa da moeda da Bahia.

A ambientação da sala de exposição, propositalmente escura, traz as vitrines destacadas pelas reluzentes peças. O visitante é guiado pelo brilho do ouro. O projeto é do arquiteto Tiago da Costa, que divide a organização da mostra com Vanessa.

Fonte: O Estado de S.Paulo