Esculacho pede afastamento de delegado que atuou na ditadura

A Frente de Escracho Popular (FEP) realizou um ato na Praça da Bandeira, no centro de Itatiba, a cerca de 80 quilômetros da capital paulista, para esculachar e exigir a exoneração do delegado Carlos Alberto Augusto, conhecido como Carlinhos Metralha ou Carteira Preta. O delegado é acusado em um processo judicial e apontado por entidades de direitos humanos de executar e torturar entre 1970 e 1977, como agente da ditadura militar. O esculacho ocorreu no sábado (4).



Esculacho em Itatiba / foto: divulgação Frente de Escracho Popular

A Frente de Escracho Popular (FEP) realizou hoje (4) um ato na Praça da Bandeira, no centro de Itatiba, cidade a cerca de 80 quilômetros da capital paulista. O objetivo da manifestação, conhecida como "esculacho" foi denunciar publicamente e exigir a exoneração do delegado Carlos Alberto Augusto, conhecido como Carlinhos Metralha ou Carteira Preta, acusado em um processo judicial e apontado por entidades de direitos humanos de ser executor de torturas entre os anos de 1970 e 1977, como agente da ditadura militar.

Metralha fazia parte da equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, apontado como um dos mais ativos torturadores do período. Ele também é acusado de participar do Massacre da Chácara São Bento, em Pernambuco, em 1973. Na ocasião, seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) foram assasinadas. Entre elas, Soledad Barret Viedma, que estava grávida do agente infiltrado Cabo Anselmo. Em outubro de 2012, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal por participação no sequestro do militante de esquerda Edgar de Aquino Duarte, em 1971. Em fevereiro desse ano, foi nomeado pelo governo do estado delegado.

“Estamos aqui para denunciar esse torturador, esse carniceiro”, foram algumas das acusações feitas por Nico de Almeida, membro da FEP. O grupo – representado por cerca de 30 pessoas que foram à cidade em ônibus alugado – já realizou outros escrachos, mas esse é o primeiro em que o agente alvo das denúncias ainda está na ativa.

O MPF e a Comissão Estadual da Verdade já ingressaram com ações pedindo a exoneração do delegado de suas funções, baseado no regimento interno da policia civil, que prevê o afastamento de delegados suspeitos de quebras disciplinares graves. A justiça pediu detalhes sobre o histórico de Alberto Augusto para tomar a decisão.

Para os membros do FEP, a presença do suspeito de torturas aos direitos humanos deixa a população vulnerável a outros desrespeitos. “O ato serve inclusive para a comunidade se preparar para denunciar possíveis violências que podem acontecer. A gente está aqui para alarmar, para que eles saibam que o governo estadual, a secretaria de segurança pública colocou para eles. Estão todos vulneráveis de ser vítimas de violências como essas”, afirmou Almeida.

Para Fabiana do Carmo, de 21 anos, a relação de parte da população de Itatiba com a policia na cidade já é ruim, principalmente em relação “os meninos dos morros”. “Eles não podem ver ninguém que parece 'do morro' que já chegam 'chegando'”, ilustrou. Ela conta que mora em um conjunto habitacional e que é comum que a polícia “entre com tudo” para perseguir pessoas. “Muita gente diz que é mais fácil ser protegido por bandidos do que pela polícia. E eu concordo, porque tem certos valores que os bandidos têm que a polícia não tem”, acredita.

Os manifestantes fizeram questão de lembrar que o ato também é contra a violência policial. E lembraram que no próximo dia 12 se completam sete anos dos Crimes de Maio, quando 493 pessoas foram assassinadas em um período de dez dias, na maioria dos casos, com sinais de participação de policiais.

“Não há reconciliação. Não há perdão. Os torturadores têm de ser processados, julgados e punidos. Como aconteceu na maior parte das democracias da América Latina, em países que sofreram também com ditaduras”, encerrou Almeida.

Fonte: Rede Brasil Atual