Brasil é exemplo para China não cair em armadilha econômica

A política de Reforma e Abertura da China resultou num alto crescimento econômico e grande elevação de renda da população nos últimos 30 anos. Apesar dos aspectos positivos, este desenvolvimento trouxe também muitos desafios, incluindo a disparidade cada vez maior na distribuição de renda, a dificuldade da reestruturação industrial ou o excesso de dependência das exportações.

Neste contexto, muitos veículos de imprensa estrangeiros consideram que a China sofrerá com o que apelidam de "armadilha da renda média", que ocorre quando o crescimento de um país desacelera e eventualmente estagna depois de ter atingido níveis de renda média.

A Academia de Ciências Sociais da China publicou na segunda-feira (6) um relatório intitulado "Superar a Armadilha da Renda Média: Experiências e Lições Aprendidas do Brasil". No documento, os especialistas chineses estudam as experiências do Brasil e elaboram sugestões para a China evitar este dilema.

Segundo o relatório, o PIB brasileiro cresceu a um ritmo anual de 10% na década de 1970 do século passado, tendo o PIB per capita do país ultrapassado os US$ 1 mil. O país foi incluído na lista dos países de renda média. Porem, nos últimos dez anos, apesar de uma nova rodada de alto crescimento, o Brasil tem-se mantido estagnado no mesmo nível.

O especialista do Instituto da América Latina da Academia, Zhang Yinghua, disse que o mais importante a retirar da experiência do Brasil para evitar cair na armadilha de renda média é cuidar da reforma da estrutura social e das pessoas com baixos rendimentos na busca do crescimento econômico.

"A boa experiência do Brasil mostra-nos que o país, ao mesmo tempo que procurou o crescimento econômico, prestou atenção ao reajuste da sua estrutura social e ao alívio das dificuldades econômicas. Desejamos que a China preste mais atenção à redistribuição da renda, às pessoas pobres e às dificuldades enfrentadas pelos mais pobres no caminho do desenvolvimento. Isto pode oferecer uma boa base social ao crescimento econômico no futuro."

A principal característica da armadilha de renda média do Brasil é a grande disparidade entre os ricos e os pobres e a injustiça de distribuição de renda, as mesmas questões enfrentadas pela China atualmente, indicou o relatório. Sobre esta questão, Zhang Yinghua enfatizou a importância de uma boa combinação entre crescimento econômico e justa distribuição de renda para reduzir a pobreza.

"A renda cresce mas a distribuição desta ainda é injusta. Nesta situação os ricos tornam-se ainda mais ricos com o aumento da riqueza gerada no país. As famílias com baixa renda, ou até as de classe média são excluídas destes ganhos. Ao crescimento econômico no futuro faltará então uma boa base social. No Brasil, a consequência é a perda de eleitores. No nosso caso, isto causará instabilidade social."

No início do século 21, o Brasil conseguiu alcançar uma nova rodada de alto crescimento econômico, mas esse desenvolvimento não permitiu a entrada brasileira na lista dos países de renda alta. Para o especialista Gao Qingbo, o principal motivo prende-se com o fato de o modelo de crescimento econômico do Brasil não ter sido reformado. Ele sugeriu que a China modifique seu modelo de crescimento e melhore a qualidade da força de trabalho.

"Nos últimos anos, o investimento contribuiu para a maior parte do crescimento econômico, enquanto a presença da força de trabalho no desenvolvimento do país foi relativamente baixa. O investimento não pode crescer infinitamente para suportar o crescimento chinês, razão pela qual a contribuição da força de trabalho será crucial. A China está enfrentando a questão do envelhecimento da população. Neste contexto, a nossa prioridade é elevar a qualidade da força de trabalho através da educação e treinamento. Sugiro que o país aumente o investimento no capital humano, de acordo com as necessidades da estrutura econômica para manter um crescimento econômico sustentável."

Fonte: Rádio Internacional da China