Greve dos professores termina em São Paulo

A greve dos professores estaduais de São Paulo, iniciada no dia 22 de abril, foi encerrada nesta sexta-feira (10), após assembleia realizada na avenida Paulista. A decisão foi anunciada pela presidenta da Apeoesp (Sindicato dos Professores), Maria Izabel Noronha e contestada por um grande número de professores. Aproximadamente duas mil pessoas se concentravam no local por volta das 16h, de acordo com a Polícia Militar.

Por Vanessa Silva, para o Portal Vermelho

Greve dos professores - Adriano Vizoni/Folhapress

Na reunião da Apeoesp com o secretário estadual de Educação, Herman Jacobus Cornelis Voorwald, na manhã desta sexta (10), a secretaria se propôs a negociar as reivindicações econômicas feitas pelos servidores durante a campanha salarial a partir do segundo semestre deste ano.

Conquistas

Os professores reivindicavam 38% de reajuste, correspondente às perdas históricas da categoria, mas na prática não obtiveram aumento real: o governo do Estado propôs 8,1% de aumento para este ano, sendo que 6% faz parte das negociações de 2012 e 2% se refere à inflação acumulada no período. No entanto, a mobilização conseguiu conquistas importantes, sobretudo para a categoria O, a mais precarizada.

O intervalo que os professores desta categoria devem cumprir na renovação dos contratos, a chamada quarentena, diminuiu de 200 para 45 dias. “Na prática, isso significa que em 2014 cerca de 49 mil professores não ficarão desempregados. O contrato anterior dizia que após dois anos, o professor não poderia dar aula por 200 dias letivos [o equivalente a um ano]. Este prazo foi reduzido para 40 dias. Uma conquista”, avalia a assessoria de imprensa da Apeoesp.

Outra conquista é que será permitido o atendimento dos professores da categoria O no Hospital do Servidor Público Estadual (Iamsp). Também será suspensa a realização da prova para admissão dos professores da categoria F e este processo se tornará facultativo aos docentes O, ou seja, os professores temporários não precisarão mais passar por outra avaliação contratual além da avaliação de qualidade já feita pela secretaria.

Além disso, “o sindicato conseguiu que ninguém da categoria O seja demitido ou prejudicado por ter entrado em greve”, lembra a professora de história Maria*, em entrevista ao Portal Vermelho.

O professor de história, categoria O, Ignácio*, lembra que as reivindicações de sua categoria “se baseiam na carta constituinte, quando esta registra que o mesmo órgão, seja público ou privado, deve dar as mesmas condições aos trabalhadores em uma mesma função”. Para ele, “o PSDB, ao criar tais categorias, comete uma infração, pois os professores pertencentes às categorias F e O, sobretudo a O, tornam-se vulneráveis a assédios, pela fragilidade do contrato. E, além disso, existem as diferenças em relação aos benefícios como, auxílio saúde, faltas abonadas, justificadas”.

Mobilização

Apesar da situação precária em que trabalham e dos baixíssimos salários que recebem, a greve dos professores teve uma adesão de cerca de 30% no auge, depois arrefeceu atingindo, esta semana, em torno de 10%. De acordo com Maria, “o resultado da assembleia foi meio a meio, mas ela já estava esvaziada. Desde a reunião de conselheiros [realizada na manhã desta sexta (10)] já haviam decidido pelo fim da greve, baseados no informe de todas as regiões. Não tínhamos condições de continuar, o movimento estava enfraquecido, em grande medida, por conta do assédio moral que os professores sofrem nas escolas”.

A baixa mobilização “foi o principal motivo para o fim da greve. Os porquês não se sabem e geram amplo debate, mas a partir de 1990 tivemos a implantação de políticas neoliberais no país e então as reivindicações coletivas passaram a ser individuais. A verdade é que é muito difícil fazer greve nos dias de hoje”, disse ao Portal Vermelho uma fonte da Apeoesp que não quis ser identificada.

Para Maria, o legado desta mobilização é a “denúncia da situação dos professores no Estado. São degradantes as condições de trabalho e é imensa a desvalorização profissional. Então foi um grande passo termos tomado as redes sociais com nossas reivindicações para as pessoas saberem e se apropriarem destas informações, de como o governo do Estado age em relação à educação, ao que é publico”.

*Os servidores públicos são proibidos de concederem entrevistas sem autorização concedida previamente, por isso, os entrevistados desta reportagem tiveram seus nomes trocados.