Marco Trajano: Homofobia e educação

Quando o governo federal suspendeu a distribuição do kit “Escola sem homofobia” abordando a diversidade sexual, uma importante política pública de proteção à população LGBT deixou de ser adotada. O material, composto por alguns filmes, cartilhas e um caderno de orientação aos professores, deixou de colaborar na formação dos profissionais de educação e não trouxe o tema às salas de aula, como se propunha, com uma abordagem pedagogicamente correta, naturalidade e respeito.

Por Marco Trajano*

Neste dia 17 de maio, que marca internacionalmente o combate específico à homofobia, o Portal da Confederação Nacional dosTrabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) traz uma reflexão do filósofo e presidente do Movimento Gay de Minas (MGM), Marco Trajano, sobre o papel da escola nessa batalha, que o Vermelho.

A Contee, enquanto entidade representativa dos trabalhadores e trabalhadoras em educação do setor privado de ensino, traz entre suas resoluções, aprovados em congresso, a “busca por se fazer representar junto a fóruns governamentais e não governamentais de políticas para mulheres, antirracistas, de combate à homofobia e lesbofobia” e “a afirmação de compromissos de luta que visem combater todo tipo de preconceito, discriminação com a relação à cor, orientação sexual, de idade de credo, fortalecendo os direitos constitucionais”. Porque não é possível ter educação de qualidade se ela não for também não racista, não sexista e não homofóbica.

Homofobia e educação

Por Marco Trajano*

Quando o governo federal suspendeu a distribuição do kit “Escola sem homofobia” abordando a diversidade sexual, uma importante política pública de proteção à população LGBT deixou de ser adotada. O material, composto por alguns filmes, cartilhas e um caderno de orientação aos professores, deixou de colaborar na formação dos profissionais de educação e não trouxe o tema às salas de aula, como se propunha, com uma abordagem pedagogicamente correta, naturalidade e respeito.

Será que o processo de educação formal no Brasil contempla as diferenças e o respeito à diversidade? Ou será que ele hierarquiza e cria castas de direitos, onde os contemplados sentem-se superiores aos excluídos?

A educação formal brasileira ainda não conseguiu se livrar de um forte componente homofóbico. O padrão estabelecido tem dificuldade de considerar tudo que não seja a heterossexualidade. Alunos homossexuais não se veem retratados nos conteúdos pedagógicos e costumam ser vítimas de preconceito por parte de toda a comunidade escolar. Vestígios de homofobia podem ser encontrados nos livros didáticos; é comum o reconhecimento do pouco preparo profissional para se lidar com o assunto que permanece num silêncio conivente. A homofobia que vem de casa não pode ser amplificada nas caixas de ressonância dos corredores escolares.

Se por um lado a discussão sobre o bullying no ambiente escolar expõe as chagas da crueldade juvenil, por outro lado tenta colocar a homofobia no mesmo nível de características físicas que suscitam chacotas e complexos. Diferentemente, a homofobia é construída no comportamento cotidiano, ensinada por gerações, e demanda um processo educacional consistente para ser vencida.

A comunidade escolar precisa se unir para garantir a formação da primeira geração sem homofobia, aquela que terá no respeito às diferenças a base de sua educação e que orientará dessa maneira a educação de seus filhos, quebrando um ciclo que tem perpetuado e naturalizado a homofobia como se fosse algo inerente ao ser humano. A homofobia é aprendida e precisa deixar de ser ensinada.

* é formado em Filosofia e presidente do Movimento Gay de Minas