Conexões Globais debate ciberativismo e o poder da internet

Com foco nas novas possibilidades de organização política proporcionadas pelas ferramentas de comunicação na internet, o Conexões Globais 2013, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre (RS), contou com a participação de pessoas que estiveram no epicentro deste processo: as manifestações globais que ocorreram a partir de 2011 na Europa. O evento, que começou na quinta (23), se encerra neste sábado (25) com a presença de Franklin Martins e do governador Tarso Genro em debates.


Movimentos sociais na era da internet, terceiro e último debate do segundo dia do Conexões Globais, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre/foto: divulgação Conexões Globais

O jornalista Franklin Martins participará, neste sábado, às 16 horas, do debate “Comunicação e poder na era da internet”, atividade que integra a segunda edição do Conexões Globais, que está sendo realizado na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. Franklin Martins foi titular, até 2010, da Secretaria de Comunicação Social do governo federal durante o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No governo, o jornalista trabalhou com as relações do governo com a imprensa, ajudou a construir o projeto de uma rede nacional pública de TV e estimulou o debate sobre a adoção de um novo marco regulatório da mídia no Brasil.

Este será, aliás, o tema da mesa deste sábado, que também contará com a presença de Vera Spolidoro, Secretária de Comunicação e Inclusão Digital do governo do Rio Grande do Sul, das jornalistas Cynara Menezes (Carta Capital) e Natália Viana (Agência Pública) e do webconferencista Gustavo Cardoso, sociólogo português, coautor, com Manuel Castells, do livro “A Sociedade em Rede: do conhecimento à ação política”. A mediação do debate ficará a cargo de Marcelo Branco.

O futuro dos estados democráticos

Antes disso, às 14 horas, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, estará debatendo o futuro dos estados democráticos na era da informação, juntamente com o cientista político islandês Eiríkur Bergmann, professor da Escola de Ciências Sociais da Universidade de Bifröst (Islândia) e diretor do Centro de Estudos Europeus da mesma universidade. Bergmann foi membro do conselho constitucional de seu país, que elaborou aquela que é considerada a primeira Constituição colaborativa do mundo.

Em 2011, após os massivos protestos contra a crise provocada pela falência de dois grandes bancos privados na Islândia (os credores desses bancos queriam que o governo pagasse a conta), foi elaborado o projeto de uma nova Constituição com a participação da população por meio das redes sociais. O debate terá a mediação de Tarson Nunez, coordenador da Secretaria de Relações Internacionais do governo gaúcho.

Encerrando a programação dos Diálogos Globais, José Clóvis de Azevedo (Secretária da Educação do Rio Grande do Sul), Ivana Bentes (professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Isadora Faber (autora do Diário de Classe) debaterão as relações entre inclusão digital e cibereducação. Essa mesa terá como webconferencista o finlandês Timo Vuorikivi, editor assistente do Open Book, referência do movimento global pelo conhecimento livre.

O que rolou

Impulsionadas pela chamada Primavera Árabe e tendo como alvo principal os efeitos da crise econômica que atingiu em cheio o velho Continente e a forma tradicional de se fazer política, os manifestantes ganharam as ruas, em protestos lúdicos organizados com auxílio das redes sociais.

Na Islândia, a utilização das redes foi além dos protestos. A nova Constituição do país foi elaborada com contribução dos cidadãos com o uso de ferramentas como o Facebook e o Twitter, como relatou Eiríkur Bergmann, membro do conselho constitucional que elaborou o novo texto.

Já na Espanha, as redes amplificaram o sentimento das pessoas acampadas nas praças o que gerou uma onda de solidariedade em todo o país, segundo a análise um dos articuladores do movimento 15M, Javier Toret, que falou durante o segundo dia do Conexões Globais.

Javier apresentou um histórico sobre as mobilizações que aconteceram na Espanha em 15 de maio de 2011. O ativista participou da Espanha via webconferência. Ele também falou da relação entre as ações de rua e o uso das redes sociais. Mas, fez questão de salientar que os protestos do 15M não surgiram nas redes sociais. "Não se trata de revolução do Facebook, mas da capacidade de organização da prática política em rede. É um movimento que nasce nas praças, e começou mesmo antes da internet. É combinado com uma grande capacidade de intervenção", afirmou.

O 15 M foi organizado entre fevereiro e maio de 2011 por meio de um evento criado no Facebook. Com a utilização de outros canais como Twitter e Youtube para sua divulgação, gerou uma mobilização espalhada por mais de setenta cidades espanholas. O movimento teve a participação de cerca de 130 mil pessoas. "A combinação entre internet e as ruas, fizeram crescer muito o movimento", ressaltou Toret.

Na época, cerca de 40 pessoas fizeram uma assembleia após a manifestação em Madri e decidiram montar acampamento na Praça do Sol. No dia seguinte, a polícia retirou de forma violenta os acampados. Para Toret, os streamings (transmissão em vídeo feita pela internet) e ferramentas de comunicação tiveram um importante papel no crescimento das manifestações a partir da ação dos policiais. "Quando a praça gritava 'aqui empieza la revolución' (aqui começa a revolução) e isso tudo estava sendo transmitido via internet foi uma grande emoção", ressalta Toret.

Para o ativista, essas ferramentas tiveram o papel amplificar a emoção coletiva presente naquela praça e geraram um movimento de solidariedade em todo o país. Uma nova mobilização foi convocada para o dia 17 e mais pessoas se envolveram. "O 15M não é uma movimento social normal. 34 milhões de pessoas o apoiaram em 2011", diz.

Javier Toret trabalha atualmente em uma pesquisa sobre a interação das pessos por meio das redes sociais nos protestos da Espanha, que será disponibilizada em licença Creative Commons a partir de junho no blog DatAnalysis15m, onde ele publica suas análises sobre o movimento.

Movimento feminista

O movimento feminista é um dos que se apropria cada vez mais da rede e econtra espaço na internet para veicular e organizar suas mobilizações. Um caso emblemático é o da Marcha das Vadias (Slutwalk), que surgiu no Canadá em 2011, após a declaração de um policial de que mulheres "que se vestem como vadias" eram culpadas pelos estupros sofridos. A indignação com a delcaração encontrou eco nas redes e gerou a primeira mobilização de rua em Toronto, que depois se espalhou por diferentes cidades do mundo e passou a ser realizada anualmente no mês de maio.

"A marcha se apropria da tecnologia como forma de libertação, como forma de estar no mundo, de articulação. É inegável que muito daquilo que a gente constrói passa pelos emails e pelas redes sociais", considera Jul Pagul, integrante da Marcha das Vadias em Brasília. A exemplo dos novos movimentos organizados com auxílio da internet, a marcha não tem liderança central, mas busca uma forma horizontal de organização. Em entrevista ao Portal EBC, Jul Pagul fala sobre a importância da utilização das redes nas novas mobilizações do movimento feminista.

Com EBC e site oficial do Conexões Globais