Marcha das Vadias pede o fim da violência doméstica

Quebre o silêncio. Esse foi o tema levado para as ruas neste sábado (25) por mulheres e homens que participaram da Marcha das Vadias que aconteceu em São Paulo, São Carlos (SP), Belo Horizonte e Fortaleza. O objetivo é incentivar as mulheres a denunciar os crimes de violência doméstica para que eles ganhem visibilidade e sejam devidamente punidos. Este é o terceiro ano que a atividade acontece no Brasil.


Marcha inicia caminhada na Avenida Paulista / foto: (CC BY-SA) NINJA

A concentração na capital paulista começou por volta do meio-dia, na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, de onde saiu rumo à Rua Augusta, no sentido centro. Depois, seguiram em direção à Praça Roosevelt, onde a manifestação terminou com um ato simbólico. De acordo com as organizadoras, a manifestação atraiu cerca de 3 mil pessoas.

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Diversos cartazes, muitos confeccionados em oficinas realizadas durante a concentração, traziam mensagens contra a violência doméstica, em defesa da igualdade de gênero e da autonomia da mulher.

A escolha do tema deste ano se deu por conta da necessidade de denunciar a violência contra a mulher para dar mais visibilidade ao problema, além de exigir o fim da culpa atribuída às mulheres pelas agressões.

Maiara Moreira
/fotos:Deborah Moreira
A historiadora Maiara Moreira, 25 anos, faz parte do coletivo da Marcha em São Paulo desde o início. Ela contou ao Vermelho que até as duas primeiras marchas não havia ainda um grupo consolidado: "Percebemos que era importante fomentar, além da marcha, o debate entre as participantes. Então, nos reunimos periodicamente, promovemos debates e eventos culturais para contribuir com o debate".

A feminista pontuou que a violência doméstica acaba tendo uma invisibilidade devido à falta de coragem das vítimas em denunciá-la. “As mulheres que estão denunciando estão nos revelando que a maioria são maridos, namorados, ex-companheiros. Por isso é mais difícil de ser percebida. O homem se aproveita da relação de afeto e confiança para violentá-la. A mulher não consegue reconhecer essa violência e quando a reconhece mesmo assim não consegue romper com esse ciclo e acaba permanecendo em silêncio", disse Maiara, que lembra que é preciso mais ação do Estado para combater os crimes. “Temos que pensar que tipo de apoio o Estado pode dar para essa mulher para que ela consiga levar uma vida livre de violência", completou.

A estudante de biologia Liliana Campanelo, 27 anos, participou pela segunda vez da marcha. “No geral as mulheres não se apropriaram da própria liberdade e de seu corpo. Acredito que a Marcha das Vadias pretende libertar não somente as mulheres, mas também os homens, que também são vítimas do machismo”, justificou a jovem que, como outras meninas, decidiu tirar a blusa.
                                                                                                                                                                                                                                      Liliana Campanelo

Outra estudante presente, Amanda Coelho, 21, é vegetariana e se considera feminista desde os 14 anos, após ter assistido uma palestra sobre a relação do sexismo com o machismo e o consumo de carne. Depois, passou a se envolver em comunidades na internet e pelo menos uma ou duas vezes ao ano participa de passeatas. “Venho para ver o que o movimento está falando, para me dar força, para me realizar. Acho importante se envolver e acreditar na luta. As pessoas consideram o feminismo uma palavra feia e isso é bizarro. Como você acha isso de algo que libertou sua mãe, sua irmã, sua namorada, como pode ser feio? Aí nós vemos que ainda falta muito para nosso luta terminar”, declarou Amanda Coelho.

No final da marcha, na Praça Roosevelt, manifstantes fizeram um ato de encerramento lembrando os números das vítimas de violência / foto: Deborah Moreira

Neste ano, as integrantes da Marcha afirmaram que o movimento está mais conhecido e está se tornando referência para as meninas que estão entrando em contato agora com as ideias feministas. “Então, está sendo o primeiro contato delas com o feminismo. Muito além da marcha, acho que é importante a ação de empoderamento das meninas que estão aqui, que participaram da marcha. Acho que a marcha tem esse poder de empoderar as mulheres”, concluiu Maiara Moreira.

No domingo (26), a marcha acontece em cidades como Porto Alegre, onde a União Brasileira de Mulheres (UBM) participa.

"É uma luta importante, em especial de combate à violência contra as mulheres e a UBM, uma entidade que foi fundada com o slogan 'Por um mundo de igualdade, Contra toda a opressão', tem nas lutas da Marcha das Vadias mais um espaço de denúncia contra o modelo cultural baseado no patriarcado e consequentemente no machismo", defendeu Elza Campos, coordenadora nacional da UBM.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho