Bruno Peron: Frenesi de lusófonos conectados

O crescimento do uso da Internet no Brasil corrobora a tese de seleção natural do biólogo e viajante Charles Darwin. Enquanto o Plano Nacional de Banda Larga aumenta o número de internautas com acesso de 1 Mbps, a Telefônica e outras empresas lançam planos acima de 100 Mbps de velocidade em fibra óptica.

Por Bruno Peron*, em seu blog

A obsolescência tecnológica e a abertura inconsequente ao mercado conduzem à primazia dos mais fortes, que têm interesses e procedências nem sempre claros aos usuários de Internet independentemente de seus idiomas.

Dados da União Internacional de Telecomunicações (UIT) indicam que 83 milhões de usuários de Internet no mundo comunicam-se em português e que este idioma é o quinto mais usado nesta rede de computadores. O inglês é a língua oficial de 565 milhões de internautas; logo está o chinês (mandarim) com 510 milhões; em seguida, é o espanhol com 165 milhões; e, em quarto lugar, 99 milhões de usuários comunicam-se em japonês. (Jamil Chade, Português é 5º língua mais usada na web, O Estado de São Paulo, 14 de maio de 2013.). Os usuários de Internet que se comunicam em inglês e mandarim representam 50% do total de internautas no mundo.

83 milhões de internautas significam aproximadamente um terço dos 250 milhões de falantes de português. Enquanto tememos a expansão das indústrias culturais faladas em inglês, o novo Acordo Ortográfico – que pode ser entendido aqui como uma estratégia global de promoção de um conjunto de países que compartilham um idioma – e o fortalecimento da Comunidade de Países de Língua Portuguesa pressionam por uma unidade linguística que ameaça os idiomas árabe, alemão e francês, que são menos influentes que o português na Internet.

Estes dados assinalam que o português é o quinto idioma mais usado nos bate-papos, comércio eletrônico, redes sociais, troca de correios eletrônicos, acesso a e buscas em websites. Não só o quinto maior número de todos usuários de Internet comunica-se nesta língua, como o conteúdo da rede virtual também se produz, circula, distribui-se, assimila-se e visualiza-se em português.

O Brasil investe pesadamente no acesso à Internet, como através de seu Plano Nacional de Banda Larga. O governo brasileiro quer conectar o maior número de pessoas aos recursos amplos e infindáveis da Internet. A UIT estima que, entre 2000 e 2011, o acesso à Internet cresceu 481,7% em todo o mundo e 2,099 bilhões de pessoas – de uma população mundial que há pouco alcançou 7 bilhões – têm acesso a ela. (Redação Portal Imprensa, Mais de 82,5 milhões de pessoas usam o português para se comunicar na internet, Portal Imprensa, 16 de maio de 2013.)

O Brasil integra-se de fora para dentro; com o êxito deste processo, empresas que investem em tecnologia são as mais aptas a competir e sobreviver. Assim se traçou o destino da Rede Globo, que, tanto durante o regime militar (1964–1985) e a “década perdida” dos anos 1980, preparou sua infraestrutura para os desafios vindouros. A Rede Globo fundou-se em abril de 1965, quando há poucos meses se havia instaurado a ditadura; hoje está na vanguarda da televisão digital.

Entretanto, argumento que a língua é menos importante que o conteúdo que se comunica pela Internet. Sendo assim, recordo que os domínios da Internet, as linguagens de programação, e as principais redes sociais como o Facebook, surgiram nos Estados Unidos e controlam-se desde escritórios na beira-mar da Califórnia. Justifico assim por que os Estados Unidos têm receio de que os governos de outros países envolvam-se no controle do conteúdo da Internet, embora algumas de suas indústrias se prejudiquem, como pela cópia e uso ilegais de música e filme.

O número massivo de usuários da Internet de alguns países não significa que a maioria de seus cidadãos tenha acesso à Internet. Apesar de a população da Alemanha ser de 82 milhões de pessoas, um percentual aproximado de 80% de falantes de alemão têm acesso à Internet. A Alemanha considera-se, assim, um país bastante conectado à Internet, ao contrário de outros países que caminham nesta direção através de políticas de democratização do acesso.
Malgrado a notícia frenética de que o português é o quinto idioma mais falado na Internet, a língua é apenas outro meio – assim como a Internet o é – através do qual se divulga uma mensagem. Comemorar o êxito dos meios em vez do conteúdo, portanto, não é a maneira mais eficaz de garantir que os lusófonos estejam bem conectados.

*Bruno Peron é acadêmico e articulista, com interesses em cultura, América Latina e relações internacionais. Bacharel em Relações Internacionais, mestrado em Estudos Latino-americanos pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) e doutorando em Administração Cultural em Birkbeck College, Universidade de Londres.