Estudantes de colégio particular em SP usam saia para protestar

Cerca de 50 alunos, entre meninos e meninas, vestiram saia nesta segunda-feira (10) para assistir às aulas no colégio particular Bandeirantes, uma instituição tradicional da zona sul da capital paulista. A ação foi em protesto contra preconceito de que teriam sido vítimas dois estudantes, na semana passada. Este tipo de manifestação vem sendo aplicada já algum tempo nas escolas brasileiras.

O movimento, denominado "Saiaço", é um protesto contra a atitude do colégio, que na quinta-feira, 7, e sexta-feira, 8, impediu que JF e PB, 17 anos, ambos alunos do 3º colegial, assistissem a aulas por estarem de saia.

Na quinta-feira, JF foi à festa junina do colégio fantasiado de "mulher caipira", de saia, e viu-se obrigado a trocar de roupa. No dia seguinte, PB, também de saia, teve que deixar a sala de aula e o colégio. Nesta segunda, à entrada da escola, meninos e meninas trocaram de roupa e vestiram as saias.

O Colégio Bandeirantes tem uma publicidade na qual enuncia o espírito que o guia: "É comum ver alunos chegando de sandálias. Eles sabem que não são avaliados pelo que têm nos pés". Mas os alunos JF e PB colocaram o Bandeirantes em uma saia justa.

Na quinta-feira, a festa de São João foi na meia hora do recreio. Um professor chamou JF e disse que aquela era uma festa caipira e não "uma parada gay". JF foi levado à coordenação, que telefonou para a mãe do aluno. Ela não se incomodou com o gesto do filho, mas JF viu-se obrigado a tirar a fantasia. No dia seguinte, o outro aluno, PB, repetiu o gesto.

PB, que tem namorada, já havia ido de saia ao Band e, de quando em quando, veste-se assim. Ao chegar à escola, um bedel, em dúvida, consultou um dos coordenadores sobre a postura do estudante. Voltou a PB e informou: "Você não está autorizado a entrar. Ou você troca a roupa, ou o colégio vai ligar para os seus pais".

É de PB o relato que se segue.

– Por favor, pode ligar.

O coordenador, ao ser informado da resposta de PB pelo bedel, chamou o aluno para conversar e perguntou o motivo da saia.

PB não contou o episódio de JF e a saia no dia anterior. Apenas disse que gosta de usar saia de vez em quando. O coordenador argumentou que aquilo "poderia ofender as pessoas". PB respondeu:

– Eu acho que não. Ou, pelo menos, não deveria ofender. Não há nada de ofensivo nisso.

Depois de, mais uma vez, argumentar que o gesto de PB "feria a comunidade", o coordenador, segundo relato do aluno, alertou:

– Eu autorizo sua entrada, mas se algum professor tirar você da sala eu acatarei.

Tudo isso antes da primeira aula, logo no início da manhã. Quando já corria a quinta aula, outro bedel entrou na sala e disse a PB que uma coordenadora, já não mais o coordenador, chamava-o.

A coordenadora disse ao aluno que, embora outro coordenador tivesse autorizado, o diretor da escola havia chegado e desautorizado sua permanência em sala de aula e que ele, aluno, deveria ir pra casa.

PB perguntou à coordenadora qual seria a razão para a medida. A resposta foi a tradicional “cumprido uma ordem”. O aluno pediu para falar com o diretor, a coordenadora solicitou que ele marcasse um horário.

Contatada pela coordenação, a mãe de PB, Fernanda Zanetta, foi ao colégio. Na conversa com a coordenadora, Fernanda citou um recente "saiaço" de alunos da USP, também um protesto, e opinou: o Band deveria abraçar a discussão e não tomar a atitude que tomou.

A partir desse desfecho, na sexta-feira (7), os alunos criaram um evento no Facebook. Até o final da noite de domingo (9), 362 alunos se mobilizavam para o "saiaço" da manhã desta segunda-feira. Outros 153 ex-alunos do Band assinaram uma carta aberta endereçada ao colégio.

Segundo o coordenador de relações institucionais, a escola pediu para que o pai do aluno fosse buscá-lo por questões de segurança. “Ele estava trajando uma vestimenta que, para região que a gente vive, a gente tem visto a todo momento, na imprensa, agressões morais ou físicas por questão de gênero. O Bandeirantes não tem nenhum problema com questão de gênero, mas havia uma preocupação com a integridade do aluno”, explicou.

Pedro disse que não concordou com a atitude da escola. “Eu não entendi muito bem, por que eu estaria mais seguro fora do colégio do que dentro? Eu achei [a atitude] desnecessária. Acho que ela [escola] podia ter abraçado a discussão, mas preferiu agir dessa maneira. Espero que agora eles mudem de postura e incluam a discussão no colégio”, disse.

Com informações da Agência Brasil e Terra