Exército dá golpe de Estado no Egito; Mursi é deposto

O ministro da Defesa do Egito e comandante das Forças Armadas, Abdeh Fattah al-Sissi, acaba de declarar que está suspensa a Constituição do país. O presidente Mohamed Mursi foi deposto depois de o Exército dar um ultimato há dois dias.

Egito - AFP / STR

De acordo com o comandante golpista, caberá à Suprema Corte Constitucional do Egito convocar novas eleições presidenciais e parlamentares, além de elaborar a nova Constituição do país. O chefe da Suprema Corte Constitucional governará o país no período de transição, de acordo com o ministro da Defesa.

Desde o domingo (30 de junho), manifestantes pedem a renúncia de Mursi do poder. O presidente do Egito foi eleito democraticamente, mas é dado pela oposição — e por setores ligados ao antigo regime — como um fantoche da Irmandade Muçulmana.

Brasil condena

O golpe de Estado no Egito é rechaçado pelo governo brasileiro, que defende a busca de uma solução negociada e respaldada pela sociedade egípcia, e está atento aos episódios de violência registrados nos protestos dos últimos dias.

O emissário do Brasil para o Oriente Médio mais a Turquia e o Irã, embaixador Cesário Melantonio Neto, ressaltou nesta quarta-feira (3), ainda antes da deposição de Mursi, que a expectativa é que os egípcios, “acostumados a conflitos”, obtenham uma “acomodação negociada” entre o governo, a oposição e as Forças Armadas.

“Estamos acompanhando atentamente os acontecimentos no Egito, por intermédio da nossa embaixada no Cairo e também pelas informações divulgadas. É um momento de tensão, sobretudo porque os egípcios querem resultados rápidos de uma revolução que ainda vai completar três anos, é preciso ter paciência”, disse Melantonio.

Em entrevista à Agência Brasil, Melantonio descartou a possibilidade de fechamento da Embaixada do Brasil no Egito e de retirada do embaixador Marco Antônio Brandão e dos funcionários brasileiros que trabalham na representação diplomática. “Não há necessidade disso. Não é o caso. Não somos alvo de atentados, nem de ataques. É importante manter a embaixada em funcionamento para acompanhar os acontecimentos que mudam a todo tempo.”

Na noite de terça-feira (2), houve confrontos entre manifestantes e policiais. Os protestos, que começaram há três dias, intensificaram-se por todo o país.

Oficialmente, seis ministros deixaram o governo e dois porta-vozes pediram demissão.

De acordo com especialistas, a crise no Egito, é causada por fatores como o agravamento da situação econômica interna, com inflação elevada, o aumento do número de desempregados, a pressão dos militares por mais espaço e o isolamento político de Mursi.

Melantonio Neto lembrou ainda que há setores insatisfeitos na sociedade egípcia, que perderam espaço com a queda do ex-presidente Hosni Mubarak em fevereiro de 2011.

“Para avaliar a situação no Egito é preciso considerar o processo democrático e a história política do país. Há pelo menos seis décadas, os militares têm poder e estão diretamente ligados aos governos. A democracia não é caracterizada pela submissão de civis a militares”, destacou o embaixador.

“É importante também considerar que fatores envolvendo os vizinhos do Egito também interferem, como as tensões em Israel, na Síria, na Líbia e na Tunísia, assim como no Iêmen.”

O governo Mursi tinha o apoio de vizinhos considerados importantes na região, como o Catar, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita.

Com agências