Voz da Rússia: Egito procura caminhos para o diálogo

O Exército do Egito se prepara para protestos em massa de apoiantes do presidente deposto Mohamed Mursi. Na quinta-feira (4), o comando das Forças Armadas do país prometeu abster-se de medidas repressivas contra os manifestantes, se suas ações forem pacíficas. Mas os adversários da mudança de governo no Egito revelam ânimos bastante agressivos.

Por Natalia Kovalenko, na Voz da Rússia

O chefe de Estado interino Adly Mansour apelou à cooperação de todas as forças políticas do Egito, incluindo a Irmandade Muçulmana. No entanto, quase todos os líderes deste movimento, e várias centenas de ativistas, estão atualmente detidos. Os canais de televisão pertencentes a islamistas foram fechados. Os apoiantes da Irmandade Muçulmana e do deposto Mohamed Mursi pretendem continuar a se manifestar e a defender a legitimidade do presidente eleito, disse uma moradora do Cairo:

"Os militares enganaram o povo. Imediatamente após a declaração do ministro da Defesa Al-Sissi sobre a mudança de governo, eles pararam as transmissões de todos os canais islâmicos. Isso é liberdade? Eles prendem pessoas sem ordem judicial. Voltamos à era Mubarak."

No entanto, a Irmandade Muçulmana, apesar de se ter recusado a reconhecer os "usurpadores de poder", anunciou a decisão de não travar com eles uma luta armada. Os militares deram garantias de que não irão interferir em ações de massa, a menos que elas se tornem uma ameaça à segurança nacional. Isso dá a esperança de que desta vez acontecimentos sangrentos de há dois anos não se repetirão, nota o orientalista da Academia de Ciências russa Andrei Korotaev:

"Infelizmente, a probabilidade de um cenário difícil e de uma guerra civil não podem ser excluídos agora. Mas eu tenho, honestamente, nesta situação tenho muita esperança na sabedoria dos dirigentes da Irmandade Muçulmana. Porque, em princípio, seria vantajoso para eles responder agora de maneira igual às ações de seus adversários e tentar agir como oposição legal. Nos próximos meses, a Irmandade Muçulmana vai marcar pontos. Agora a situação é tal que, se as eleições forem realizadas rapidamente, na atual onda a Irmandade Muçulmana irá perdê-las. Mas, se o processo se arrastar, a Irmandade Muçulmana será capaz de voltar ao poder por uma via completamente legal."

Agora, um dos principais objetivos de Adly Mansour é a formação de um governo interino para preparar a realização de eleições parlamentares e presidenciais antecipadas. O principal candidato ao cargo de chefe do gabinete de ministros é o líder da oposição secular Mohamed el Baradei. Há tempos, ele dirigiu a Agência Internacional de Energia Atômica e é conhecido em todo o mundo. Mas isso não significa que ele será bem recebido pelos egípcios, diz o chefe do Centro de Estudos Árabes e Islâmicos do Instituto de Estudos Orientais, Bagrat Seyranian:

"O problema é que ele é uma figura de transição. Ele é apenas um homem conhecido, um Prêmio Nobel da Paz. Ele é um egípcio, mas no próprio país ele não se deu a conhecer de maneira nenhuma, ele foi mais proeminente no cenário internacional. Eu não o consideraria como uma figura séria por muito tempo. Mas por um período de transição ele poderá ser eleito."

A reação internacional aos acontecimentos no Egito é ambígua. O Ministério das Relações Exteriores russo apelou a todas as forças políticas no Egito para mostrarem contenção e se guiarem por interesses nacionais comuns, e também a buscarem uma forma democrática de resolver todos os problemas políticos, sociais e econômicos prementes.

O secretário-geral da ONU Ban Ki-moon exigiu que o governo civil no Egito seja restaurado, de acordo com os princípios da democracia. Paris apelou às novas autoridades para tratarem com o devido respeito o presidente deposto Mohamed Mursi.

O ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, chamou os eventos no Egito de “sério precedente” que poderá ter implicações para a região do Oriente Médio.

A Turquia considera o que aconteceu como um golpe militar que não reflete a vontade do povo. A União Africana disse que pode suspender a participação do Egito na organização depois do golpe.

Fonte: Voz da Rússia