Os ventos da mudança

 Por Flávio Dino

Flávio Dino
Nas últimas semanas, manifestações do povo, nas ruas e nas redes de todo o país, pedem mudanças nas práticas políticas baseadas no uso do dinheiro público em benefício particular e na utilização de bens que deveriam servir ao povo como moeda de troca política. O combate à corrupção está no centro dessa fantástica mobilização social em curso na nossa Nação.

No Maranhão, mesmo em meio à ebulição das ruas pedindo mudanças, vimos durante estas semanas três fatos que entristeceram a população: a inusitada criação do “bolsa-eleição”, denúncias sobre convênios fantasmas e graves indícios de desvio de verba pública na reforma de hospitais, que nunca estão prontos para servir ao povo, apesar das centenas de milhões de reais investidos.

Os três casos representam claramente o uso indevido do dinheiro que deveria ser destinado ao oferecimento de serviços públicos decentes aos maranhenses. O exemplo do dinheiro gasto com o “bolsa-eleição”, consistente na nomeação de candidatos que não se elegeram nas últimas eleições para participar de um “conselho de gestão estadual”, recebendo quase R$ 6 mil para participar de apenas uma reunião por mês, é o símbolo de uma velha prática que faz tanto mal ao Maranhão. São verbas públicas, que deveriam ser gastas com o enfrentamento dos problemas do povo, sendo usadas para fazer política em favor do grupo no poder há 50 anos. Flagrada no ato ilícito, a oligarquia rapidamente extinguiu a benesse, maior prova de que não havia interesse público na sua existência.

Se não fosse a bravura e a competência dos deputados federais e estaduais da oposição, por ano seriam gastos R$ 14 milhões com o “bolsa-eleição”. Com este valor, é possível construir e equipar 10 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), programa do Governo Federal, ou ajudar a funcionar os poucos hospitais de fachada que estão sendo “inaugurados” no interior.

A comparação demonstra que, se bem investido, o dinheiro público traz os resultados que o povo reclama e merece. O fim do privilégio, anunciado nesta semana, em esquisita e constrangida nota do governo estadual, é uma vitória da pressão popular, que não aceita mais que o dinheiro de todos seja usado em benefício de poucos.

Deus tem me dado a energia necessária para combater o bom combate, sempre ao lado dos trabalhadores, dos mais pobres, dos tradicionalmente esquecidos. Faço disso um compromisso de vida, desde os 15 anos de idade, para muito além de contingências eleitorais. Acredito no êxito de mobilizações como as que levaram à Lei da Ficha Limpa, que ajudei a fazer nascer, maior êxito recente no combate à corrupção. Tivemos agora a luta liderada pela UNE e pela UBES, que levou à aprovação do projeto de lei que destina 75% dos royalties do petróleo para a Educação e 25% para a Saúde.

Espero que, sem violência, a sociedade continue buscando mais e mais direitos, para que a sexta maior economia do mundo ofereça a todos qualidade de vida, dignidade, oportunidade de realizar seus sonhos. E que esses ventos cheguem ao Maranhão e levem para longe a perversidade do modelo que aí está, sustentado pelo mau uso do dinheiro publico, pela corrupção desenfreada, pela crença na impunidade, pelo desprezo às leis.

Flávio Dino, 45 anos, é presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), foi deputado federal e juiz federal