Irã: Jornal alerta presidente eleito para políticos "insurretos"

Hossein Shariatmadari, editor do jornal persa Kayhan, escolhido pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, lembrou ao presidente recentemente eleito no país, Hassan Rouhani, sobre o retorno dos reformistas à administração, em um editorial suave publicado nesta quarta-feira (10).

Por Arash Karami*

“Embora o doutor Rouhani seja sagaz o suficiente para não ser pego com os acompanhantes da sedição americana-israelense de 2009”, começou Shariatmadari, “especialmente como um membro do Conselho de Segurança Nacional há tantos anos, com a confiança de representar o líder supremo, ele não pode estar desatento sobre a identidade verdadeira e revelada da comunidade insurreta”.

E continua: ”Entretanto, há evidência sobre o desenho de um projeto de inversão para destruir e fazê-lo falhar na importante tarefa que assumiu”. Por “projeto de inversão”, Shariatmadari refere-se a desfazer ou compensar os últimos oito anos da presidência de Mahmoud Ahmadinejad.

Estranhamente, Shariatmadari defendeu a administração de Ahmadinejad, dizendo que “o serviço civil durante os dois períodos [presidenciais] de Ahmadinejad, na história de todas as administrações, da revolução constitucional (1905-1911) até hoje, tem sido incomparável”.

Shariatmadari então tentou distanciar Ahmadinejad do grupo pervertido dentro de sua administração e fez paralelos entre aquele grupo e os “insurretos” que ignoram todos os sucessos da administração Ahmadinejad.

O “grupo degenerado” refere-se ao chefe do Estado-Maior de Ahmadinejad, Esfandiar Rahim Mashaei, enquanto os “insurretos” incluem reformistas que contestaram, mesmo que moderadamente, o resultado das eleições de 2009, com o antigo presidente Mohammad Khatami como o membro mais bem conhecido que não está na prisão atualmente.

Shariatmadari escreveu que o “projeto de inversão” pertence aos “companheiros dos insurretos e alguns reformistas que têm reivindicações sobre a administração de Rouhani”. E continuou, dizendo que “os companheiros dos insurretos não vêm Rouhani como um dos seus. As posições de Rouhani, que em muitos tópicos foram declaradas oficialmente, é inconsistente com as posições deles. Eles consideram o sucesso de Rouhani outra falha dos reformistas”.

“O senhor Rouhani é o presidente eleito do povo”, continuou. “E o direito de escolher o seu gabinete é legalmente dele. Mas com o conhecimento que tem sobre os companheiros dos insurretos, ele precisa ser cauteloso ao convidar para trabalhar com ele aqueles que têm a vergonha de ter vendido o seu país na sedição americana-israelense de 2009”.

Rouhani classificou-se como um moderado que traria todos os lados para trabalhar com ele, à exceção daqueles que exibiram radicalismo. Espera-se que ele complete o gabinete com conservadores tradicionais e moderados, se talvez reformistas menos conhecidos, e que evite reformistas mais duros e radicais.

As nomeações para o gabinete de Rouhani terá de ser aprovada pelo parlamento. Entretanto, alguns postos-chave, como o de ministro da Inteligência, são tipicamente tidos como submetidos à supervisão do líder supremo.

No segundo período do governo Ahmadinejad, a relação entre o presidente e o líder supremo pareceu irreparavelmente prejudicada quando Ahmadinejad tentou substituir Heydar Moslehi como o ministro da Inteligência. Depois da objeção de Khamenei à substituição, Ahmadinejad não apareceu para trabalhar pelos 11 dias seguintes, como forma de protesto.

Rouhani e Khamenei têm uma relação de trabalho mais longa, e provavelmente melhor. Ainda assim, pode-se assumir que Khamenei terá o mesmo nível de influência sobre as posições no gabinete em comparação com as administrações anteriores.

*Arash Karami é um jornalista e autor em assuntos iranianos, e escreve para o portal Al-Monitor.

Fonte: Al-Monitor
Tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho