José Bertotti: professor Ricardo Ferreira nos deixa um legado

Após uma semana na qual Recife e Pernambuco receberam a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que pautou o tema Ciência para o Novo Brasil e atingiu a incrível marca de 23.000 inscritos recebemos a notícia do falecimento do Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco Ricardo Ferreira, que nos deixa um legado de uma profícua produção científica e de compromisso social aos 85 anos.

Por José Bertotti*

Recentemente no ano de 2012 a Companhia Editora de Pernambuco reeditou um de seus livros “Bates, Wallace e Darwin e a Teoria da Evolução”, por sugestão do então diretor do Ministério da Ciência e Tecnologia, o professor Ildeu Moreira de Castro, que acabou de ser agraciado com o Prêmio José Reis de Divulgação Científica. Na ocasião, o professor Ildeu nos lembrava que esse livro é adotado em diversos disciplinas de História da Ciência e encontrava-se esgotado.

Essa reedição contou com um prefácio do professor Sérgio Rezende, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia, datado de 1 de agosto de 2012, do qual reproduzo o seguinte trecho: “Ricardo Ferreira é o mais importante cientista pernambucano vivo, que contribuiu com seu trabalho, seus sonhos, sua inquietude, seus ensinamentos e seu exemplo de vida e de professor, para formar gerações de bons pesquisadores e para a institucionalização da ciência no Nordeste do Brasil. Ricardo foi um pioneiro na ciência brasileira, sendo o primeiro químico teórico no Brasil a utilizar a mecânica quântica para explicar propriedades químicas de materiais. Sua geração teve grandes dificuldades para estudar e fazer pesquisa científica no Brasil, a pós-graduação institucionalizada só foi implantada na década de 1960. Por isso sua formação como cientista exigiu uma excepcional capacidade pessoal, auto-didatismo e, principalmente, muita persistência. Ainda muito jovem, Ricardo teve a audácia de submeter à Nature, a mais prestigiosa revista científica, um artigo intitulado “Resolution of Racemic Mixtures by Symmetrical Agents”. O artigo passou pelo severo crivo dos editores e revisores e foi publicado em agosto de 1953, no volume 171. Ele era um jovem professor da então Faculdade de Ciências Médicas do Recife, que mais tarde passou a integrar a Universidade Federal de Pernambuco. A partir de então Ricardo ganhou o mundo e entrou na comunidade científica internacional, ampliando continuamente suas áreas de pesquisa. Outros brilhantes cientistas pernambucanos, quase contemporâneos de Ricardo, viveram experiências semelhantes, como os físicos Mario Schemberg e José Leite Lopes. Mas enquanto estes se fixaram em São Paulo e no Rio de Janeiro depois que voltaram do exterior, onde havia instituições com melhores condições de trabalho, Ricardo resolveu voltar para o Recife após passagens de alguns anos no exterior, numa delas como professor nos Estados Unidos. Aqui ele formou seus principais discípulos e, juntamente com os primeiros deles, fundou na década de 1980 o Departamento de Química Fundamental, que se tornou a principal instituição da ciência química no Nordeste Oriental…”

*José Bertotti é químico Industrial, mestrando em Engenharia de Produção pela UFPE, secretário Executivo de Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco.