Impacto da mudança climática na saúde é um problema global

O desenvolvimento de doenças como consequência da mudança climática é um problema global ao qual Cuba não está alheia, asseguraram participantes da 9ª Convenção Internacional de Meio Ambiente e Saúde, recentemente realizada em Havana.

Problemas respiratórios, relacionados à diarreia e infecções transmitidas por vetores se incrementarão nos próximos anos, um fenômeno que já se observa em algumas regiões do mundo, explicou à Prensa Latina o doutor em Ciências Paulo Ortiz Bultó, especialista do Centro do Clima do Instituto de Meteorologia de Cuba. Estudos realizados na ilha mostram variações e mudanças climáticas – aumentos de temperatura, frequência de secas, ocorrência de fenômenos atmosféricos capazes de produzir grandes volumes de chuvas e inundações – em termos gerais está se produzindo uma expansão do verão e uma contração da duração do inverno no país, considerou.

Também se observa um aumento no número de focos de mosquitos Aedes aegypti, ao encontrar melhores condições para sua incubação; todos estes fatores são determinantes não só no surgimento de patologias, mas também implicam mudanças ecológicas e socioeconômicas, que propiciam variações e mudanças epidemiológicas que afetam o sistema de saúde.

Ortiz Bultó destacou ainda que em Cuba não existem limitações econômicas para ter acesso aos serviços de saúde, pois sua prestação é gratuita. Isso não significa que o Estado não tenha despesas; o país dedica anualmente grandes quantidades de dinheiro à saúde da população e à melhoria de sua qualidade de vida.

Portanto, é fundamental conhecer os potenciais impactos da mudança climática e a identificação de vulnerabilidades, para assim apresentar propostas de medidas de adaptação para enfrentá-las, desde o âmbito pessoal à população em geral, afirmou.

Por sua vez, Margarita Astrálaga, diretora do Escritório Regional para América Latina e o Caribe do Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente (Pnuma), afirmou que o mundo enfrenta grandes desafios.

O desenvolvimento econômico se baseou em uma agenda equivocada: como produzir mais rápido e em maior quantidade, sem cuidado ambiental, explicou.

No entanto, esse é um problema a ser resolvido; o planeta está sujeito a novos riscos e perigos, inundações permanentes, mudanças na temperatura global, escassez de água potável, derretimento de glaciais, com o consequente custo que isso tem para a saúde, tanto pessoal como no nível dos governos.

Atualmente, 25% das doenças são devido a problemas ambientais, causados pela contaminação da água, do ar e dos alimentos, e têm um custo altíssimo, avaliou.

Temos que avançar nestes temas, disse Astrálaga à Prensa Latina, fortalecer os ecossistemas, demonstrar os vínculos que existem entre o problema ambiental e a previdência.

Carlos Corvalan, especialista da Organização Panamericana de Saúde (OPS), indicou por sua vez que eventos fora do normal estão alterando a saúde.

Os desastres naturais trazem com eles acidentes, infecções associadas à água contaminada, proliferação de vetores e outros problemas a longo prazo como deterioração da saúde mental, e talvez este seja o fenômeno menos analisado, ainda que pode ser o maior, agregou.

Destacou que ainda quando são tomadas medidas para reduzir emissões de gases à atmosfera, demorará décadas para que o planeta normalize a situação atual, motivo pelo qual é indispensável trabalhar não só para reduzir a mudança climática, mas também para a adaptação. O mundo está mudando, e se não há adaptação colocamos em risco a sobrevivência da espécie humana, explicou.

Durante os últimos 50 anos, a atividade humana, em particular o consumo de combustíveis fósseis, tem liberado quantidades de dióxido de carbono de outros gases, o que é suficiente para reter mais calor nas camadas inferiores da atmosfera e alterar o clima mundial.

Só é possível medir os efeitos da mudança climática na saúde de maneira aproximada. Não obstante, uma avaliação levada a cabo pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que considerou algumas das possíveis repercussões, concluiu como o discreto aquecimento registrado desde os anos 1970 já estava causando um aumento de mortalidade estimado em 140 mil mortes anuais em 2004.

Ainda que todas as populações serão afetadas, a OMS indica que umas são mais vulneráveis que outras, entre elas os habitantes dos pequenos estados insulares em desenvolvimento e outras regiões da costa, grandes cidades e regiões montanhosas e polares.

Também são mais afetadas as crianças, os idosos e aquelas com doenças pré-existentes.

Prensa Latina