Rabelo defende aliança ampla com partidos e movimentos sociais

Nem mesmo a chuva e o frio intenso impediram políticos, militantes e simpatizantes de participarem, neste sábado (10), do lançamento do 13º Congresso do PCdoB no RS, no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa.

mau_446646832.jpg - Mauricio Concatto

O ato político contou com a presença dos presidentes nacional do PCdoB, Renato Rabelo; do Rio Grande do Sul, deputado Raul Carrion; e de Porto Alegre, Adalberto Frasson; da líder do PCdoB na Câmara Federal, deputada Manuela d’Ávila; do líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque; do deputado federal Assis Melo; dos vereadores da capital João Derly e Jussara Cony, além de representantes do PT, PDT e PPL, e dirigentes dos movimentos sociais e sindical.

Na abertura, o deputado Raul Carrion afirmou que duas diretrizes moverão os debates desta edição do Congresso: a análise dos 10 anos de governos de esquerda no Brasil e os avanços necessários para que a alternativa socialista se reafirme no país. "O PCdoB esteve nos governos Lula e Dilma desde o primeiro dia enfrentando crises que culminaram nesta que é a maior crise do capitalismo. Entendemos que o 13º Congresso será o momento de amplo debate para a análise das transformações que o país precisa", disse.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, afirmou que o debate sobre como o país interveio no decênio de Lula e Dilma, e que lições, ensinamentos e perspectivas o Partido deve dar ao clamor das ruas, são necessários e fundamentais. "Quais ensinamentos os acontecimentos de junho nos trazem?", ponderou Rabelo.  

O dirigente comunista analisa o processo como a produção de uma nova situação política no país. “O Brasil é outro depois das manifestações”. Ele aponta uma diferença importante que marca essas manifestações, por terem sido encabeçadas pelos jovens das camadas médias brasileiras. “Estamos vivendo uma nova etapa, quem não entender isso, não está entendendo nada”, disse Rabelo, reafirmando a necessidade de mudanças na superestrutura para transformar o país.

Conforme Rabelo, nesses 10 anos de governo Lula e Dilma foram atendidas e respondidas questões da base social da pirâmide. Ele cita o Bolsa Família, o aumento real do salário mínimo, o crédito abundante para o pequeno produtor rural, o Luz para Todos, o crédito para moradia popular. “Sem falar nos direitos para trabalhadores domésticos, ou seja, milhões que praticamente não tinham direitos,” citou.

Se por um lado essa camada média emergente da pobreza quer continuar avançando, por outro tem uma camada média tradicional que, evidentemente, não foi atendida em todas as suas demandas. “As camadas médias tinham reserva de mercado nas melhores universidades públicas, antes das cotas”, cita. Portanto, há uma percepção nesses setores de que se paga muito imposto sem serviços públicos de qualidade. Para o dirigente comunista, é preciso responder a esses setores com reformas estruturantes, como a reforma tributária.

Rabelo também alerta para o acirramento do embate político e ideológico gerado pelas manifestações. Ele lembrou o ciclo em que as manifestações são espontâneas num primeiro momento e aproveitando o ambiente democrático no país. “As manifestações são disputadas e a mídia de direita procura direcioná-las.”

A grande mídia, define Rabelo, comporta-se como um partido político de oposição. “Em São Paulo, corrupção para a mídia é cartel. Mas se fosse um partido de esquerda seria um grande escândalo dando nomes aos bois”, denuncia ele. “Precisamos levantar marcos regulatórios para ter, pelo menos, direito de resposta”, diz ele. Rabelo citou uma manchete de domingo que ataca o PCdoB, com correção do erro na quarta página, dias depois, sem possibilidade de direito de resposta do partido. “A realidade está sendo disputada por aqueles que querem barrar e aqueles que querem avançar nas reformas mais profundas.”

Rabelo afirma que questões consideradas prioritárias para o PCdoB, ítens que já estavam apontados nas teses do Congresso, como a reforma política, vieram para a ordem do dia com as manifestações. “O PCdoB vem propondo que é necessário na fase atual para que se enfrente essa nova etapa, levando em conta essas mudanças mais profundas, uma aliança de esquerda mais ampla. Ou seja, uma composição de afinidades de esquerda, que vá além dos partidos, mas que atinja também o movimento social e sindical, que haja uma ampla união em torno da bandeira dessas mudanças, dos partidos de esquerda, das correntes políticas comprometidas com essas mudanças, com o movimento social”, explicou.

Em sua fala, a líder do PCdoB na Câmara, deputada Manuela d’Ávila, reafirmou a necessidade de reformas estruturais. “Nós dissemos que o ciclo iniciado com Lula e Dilma deve continuar sob o comando de um novo pacto. Nós sabemos a quem serviu esse ciclo. Essas mudanças promovidas serviram sobretudo à base da pirâmide social. Se nós não renovarmos o pacto e as políticas, esse ciclo corre o risco de se esgotar. E para que isso não ocorra nós precisamos de um novo pacto para aprofundar mudanças desse ciclo iniciado por Lula e Dilma que nós queremos continuar.” 

Sobre as manifestações de junho, Manuela também destacou que os documentos formulados pelo PCdoB antes dos acontecimentos já estavam no rumo do carater progressista desses atos. “O lado popular, o lado que queria mudanças, era muito próximo do que nós já defendemos há muito tempo. As reformas estruturantes, as reformas que nós queremos que esse novo pacto conduza, a reforma da política, mais investimentos em saúde e educação, e reforma urbana são defendidos pelo PCdoB. Nós compartilhamos da indignação com os financiamentos das campanhas, a indignação com a forma como a política é feita para não transformar a realidade.”

Em sua manifestação, o deputado federal Assis Melo destacou a importância de os trabalhadores e movimentos sociais estarem unidos em torno da luta política também e não só da econômica. "Porque temos grandes desafios pela frente para o Brasil avançar e aprofundar as mudanças. Nosso partido faz uma reflexão importante dos 10 anos dos governos Lula e Dilma, mas também aponta a necessidade de avançarmos em diversas áreas. O PCdoB defende um conjunto de reformas democráticas abrangentes, como as reformas política, tributária e urbana, a democratização da mídia e a destinação de mais investimentos para a saúde e a educação. É essa luta política que precisamos fazer com a garra militante de sermos comunistas, porque lutamos uma sociedade mais justa e igual, que nos leve ao caminho do socialismo", enfatizou.

A mobilização interna do partido no RS deve perdurar até outubro, e culminar com a Conferência Estadual que elegerá a nova direção do partido e os delegados à plenária final do Congresso, que será em São Paulo, entre os dias 13 e 16 de novembro.

De Porto Alegre,
Isabela Soares e Barbara Paiva